I - Quem, num rasgo de demência, quiser mumificar um defunto
não deve encomendar o serviço em Havana ou em Caracas; o resultado será uma
catástrofe. Fizeram e aconteceram, esgoelaram aos quatro ventos que o sujeito ia
virar múmia. E que esta seria exposta
num palácio, réplica do Trianon de Luiz XIV, mas de feito de platina, todo engastado de gemas raras, com paredes de
cristal da Boêmia, colunatas de ouro maciço e vitrais à maneira de Chartres,
mais deslumbrante que Versailles e mais grandioso que o Taj Mahal. Tudo para a
glorificação eterna do chavismo, movimento primitivo que se apropriou do
fantasma de Simon Bolívar e se emoldurou nas gosmas caquéticas de Fidel Castro.
Pérolas – a idéia da múmia, o mausoléu e o fetiche ideológico.
Pois faz semanas que Chavez “evoluiu a óbito”. O
governo interino da Venezuela – ouvi no Jornal Nacional – concluiu, depois de profundos pensares, que a fossilização
do homem “poderia não dar certo”, já que o processo fossilizador deveria ter
sido iniciado imediatamente após a morte. Tradução: tentaram por sal em carne
podre, como diz o refrão; mas deu
revertério. E agora não se fala mais na figura; nem na múmia; sequer no destino
que deram a esse desastre. Não se sabe se ele foi enterrado, cremado, ou se, de
corpo presente, subiu aos Céus, onde, os chavistas acreditam, moram os
demagogos impenitentes.
II - A impropriedade vocabular continua sendo a praga do
jornalismo – por descuido ou ignorância pura e simples.
Assistindo ao Jornal Nacional de hoje, dei com Obama em visita a uma igreja
hierosolimitana (a palavra não tem nada a ver com aerossol; é o nome que se dá a quem ou o que é natural
de Jerusalém). Mas vamos à questão. Segundo o locutor, essa igreja “está construída exatamente no local onde se imagina que ficava o
sepulcro de Cristo” (sic). Ora, o advérbio “exatamente” descombina, a toda evidência, com o “se imagina”.
No caso, o jornalista deveria construir a frase usando, agora com propriedade, o advérbio “supostamente”
– tão a gosto da mídia nacional, que ainda não
conseguiu traduzir o significado de “suposto”. Suposto e supostamente são ícones verbais do
jornalismo brasileiro, sobre os quais se constroem verdadeiras pérolas.
Exemplo: Carlinhos Cachoeira supostamente é ladrão, mesmo depois de condenado
pelos seus roubos. Pode? Deve poder. Pois os jornais não insistem em dizer, por exemplo, que Henrique Pizzolatol foi condenado pelo suposto crime de corrupção e coisas mais?
É
onde eu te falo...
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