Então, não se vá pensar – e, coisa grave – dizer que esses acontecimentos são uma novidade
no Brasil. Nem – coisa muito grave – atirar perdigotos alcoólicos pra todo lado
ao berrar que nunca antes na história deste país ocorreu esse tipo de tragédia.
E – coisa gravíssima – esgoelar alardes superlativamente alcoólico-perdigoteiros sobre imediata e eficaz ajuda governamental às vítimas, pura falsidade bravateira.
Bom, não sejamos radicais:
Dona Dilma, no ano passado, quando fazia uma das suas viagens de recreio, até
que arranjou, via telefônica, uns caraminguás para socorrer os flagelados das enchentes no Sudeste. Mas
o seu ministro-das-chuvas mandou tudo
para Pernambuco, sua terra, onde não chovia há trezentos e trinta e três anos. Regressando, Dona Dilma elogiou o tal
ministro pela sua rara competência e o manteve no cargo.
Agora vejo Dona Dilma em Roma,
muito circunspecta ao lado da equivocada viúva Kirchner, uma outra em rapapés
renascentistas para Sua Santidade. Uma foi fazer farol para os eleitores
católicos; outra, agora sem o rompante milonguero,
a pedir ajuda divina para que as Falklands sejam Malvinas. As cenas, na televisão,
fazem chorar, tão condoídas estão duas ninfas. Madame Kirchner-Cuesta-Abajo, de
véu negro (que a envelhece ainda mais) é
a própria mater dolorosa
juxta crucem lacrimosa (*) ;
Dona Dilma, que já treinara bastante no sinistro da Boate Kiss, mal esconde o
ranho e duas ou três lágrimas ao se solidarizar com os desgraçados brasileiros que
as torrentes levaram.
Tudo muito bonitinho, muito
cênico, muito comme il faut (**). E
usual. Sai ano, entra ano, é a mesma m...
de sempre. E na Itália, Dona Dilma, com cara de novela de Janete Clair, se põe
de compungida e – ô cinismo! – diz, com
voz embargada e de descobridora da América: “Nós precisamos fazer alguma coisa
para evitar que se repitam esses episódios lamentáveis...” Ou seja, ela nunca soube desses desastres;
jamais ouviu falar deles. Só agora.
É onde eu te falo...
(*) Mãe dolorosa e lacrimosa junto à cruz
(**) Apropriado, correto, de acordo com a etiqueta
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