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terça-feira, 19 de março de 2013

AS CARPIDEIRAS DE ROMA


                                                                       
                                                          
              Há um ano atrás, precisamente em abril, falei sobre As Chuvas de Ranchipur, bela obra de Louis Bromfield, que deu origem ao filme homônimo. Eu disse abril, época em que vem chovendo “adoidado”  no Brasil. Como é notório, nesses tempos de aguaceiros espaventados são cenas se repete a cada ano: rios que transbordam; alagamento de vilas e  cidades;  encostas que viram barro e soterram casas, gentes e bichos por atacado; desabamentos;  pontes destroçadas e infortúnios correlatos. Noé, o armador, dispunha de uma divindade para alertá-lo e lhe fornecer a planta de uma arca descomunal; mas quem não tem  adjutórios celestes, vai pro brejo   literalmente.  
 Então, não se vá pensar  – e, coisa grave  – dizer  que esses acontecimentos são uma novidade no Brasil. Nem  – coisa muito grave  – atirar perdigotos alcoólicos pra todo lado ao berrar que nunca antes na história deste país ocorreu esse tipo de tragédia. E – coisa gravíssima – esgoelar alardes superlativamente alcoólico-perdigoteiros  sobre imediata e eficaz ajuda governamental  às vítimas, pura falsidade bravateira.
Bom, não sejamos radicais: Dona Dilma, no ano passado, quando fazia uma das suas viagens de recreio, até que arranjou, via telefônica, uns caraminguás para socorrer os flagelados das enchentes no Sudeste. Mas o seu ministro-das-chuvas mandou tudo para Pernambuco, sua terra, onde não chovia há trezentos e trinta e três  anos. Regressando, Dona Dilma elogiou o tal ministro pela sua rara competência e o manteve no cargo.
Agora vejo Dona Dilma em Roma, muito circunspecta ao lado da equivocada viúva Kirchner, uma outra em rapapés renascentistas para Sua Santidade. Uma foi fazer farol para os eleitores católicos; outra, agora sem o rompante milonguero, a pedir ajuda divina para que as Falklands sejam Malvinas. As cenas, na televisão, fazem chorar, tão condoídas estão duas ninfas. Madame Kirchner-Cuesta-Abajo, de véu negro  (que a envelhece ainda mais) é a própria mater dolorosa juxta crucem lacrimosa (*) ; Dona Dilma, que já treinara bastante no sinistro da Boate Kiss, mal esconde o ranho e duas ou três lágrimas ao se solidarizar com os desgraçados brasileiros que as torrentes levaram.
Tudo muito bonitinho, muito cênico, muito comme  il faut  (**). E usual. Sai ano, entra ano, é a mesma  m... de sempre. E na Itália, Dona Dilma, com cara de novela de Janete Clair, se põe de compungida e  – ô cinismo! – diz, com voz embargada e de descobridora da América: “Nós precisamos fazer alguma coisa para evitar que se repitam esses episódios lamentáveis...”  Ou seja, ela nunca soube desses desastres; jamais ouviu falar deles. Só agora.

É onde eu te falo...   

(*)  Mãe dolorosa e lacrimosa junto à cruz
(**)  Apropriado, correto, de acordo com a etiqueta   

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