Nossa república
enfermiça nasceu de uma quartelada positivista. Só por esse vício de origem,
jamais poderia dar certo; como não deu. República é única forma de governo que recepciona,
e realça, a perversidade do ser humano. Parlamentarista ou presidencialista,
ainda não se inventou forma de governo
mais propícia à degeneração. Consta que lá pelos fins do Século I, ou pouco depois, o
bispo Irineu de Lyon inventou o pecado original: o sujeito já nasce
pecador, ou decaído. Pois como o ser humano (nessa visão teológica) nasce inclinado para mal,
assim toda república já nasce maligna, porque gerada “in vitro” com a predestinação
de criar e desenvolver a deformidade política, que a gera a corrupção.
Está no DNA
da república o conchavo e a corrupção. Não tem jeito. Não há república sem
esses predicamentos. E a grande pústula republicana não pode ser lancetada: é a
maldita preocupação com a próxima eleição. O sujeito, antes de ser investido,
já começa a amarrar a trama e a urdidura
da sua rede de poder, pensando em si
próprio ou no seu grupo. Quando a reeleição é permitida, aí a coisa desembesta.
Empossado, o primeiro ato do presidente, seja qual for a sua ideologia, tem o
sinete de todos os que executará no curso do mandato: arranjar as coisas para a
próxima eleição.
Quem negar
essa verdade é mentiroso ou doido de jogar pedra. E não me refiro ao Brasil
somente; isso acontece nos Estados Unidos, na Argentina, na Itália, na Rússia,
na Grécia, e noutras nações que adotam a forma republicana, presidencialista ou
parlamentarista. Só não acontece nos países de governo monárquico. Por quê?
Porque o rei está a salvo das rixas políticas, dos conchavos parlamentares, da
preocupação de ser reeleito ou de eleger sucessor; enfim, não entra na guerra,
aberta ou velada, que os grupos políticos necessariamente travam. Essa guerra
também não existe quando o próprio ditador nomeia o governante que o sucederá, como,
por exemplo, na Coréia do Norte, em Cuba, na Síria, etc.
Mas é preciso anotar: nomeação de sucessor é coisa de ditador. A diferença é que o rei de
hoje não nomeia o próximo rei, porque a linha de sucessão é previamente
definida. Isso permite que o futuro rei seja profundamente educado e duramente preparado
para assumir o trono, ao contrário do que ocorre nas chamadas “democracias
republicanas”, onde um indivíduo inteiramente despreparado e ignorante da
arte/ciência de governar, pode muito bem virar presidente. Mais ou menos como o
sujeito que, apesar de confundir volt com watt, se mete a instalar uma rede
elétrica.
O importante
é que o rei não age de acordo com o seu interesse, mas voltado para o interesse
da nação. O interesse do rei é o interesse do reino. Por isso, o maior trunfo
desse modelo está num fato muito simples: o rei não precisa corromper e não tem
oportunidade de ser corrompido; nem de fazer promessas; nem de ser cobrado pelos
favores eleitorais que recebeu – circunstâncias o tornam vacinado contra os
conchavos, ou, noutras palavras, incorruptível. E se o rei está a salvo da
corrupção, ele se torna, automaticamente, um modelo para o povo, e com isso a
nação tende a amaldiçoar a corrupção e a se levantar contra ela – não da boca
pra fora, como em certos países onde o povo rosna contra os corruptos mas não
age; pior, quando nem rosnam e reelegem um tralha qualquer.
Voltarei ao
tema. Ele é muito vasto para caber numa página de blog. Mas, três coisas adianto:
a) não dá para comparar a estatura moral de D. Pedro de Alcântara e a de certos presidentes que o sucederam; b) as nossas Repúblicas, a velha e a nova, foram um sem conta de trapalhadas; c) a atual
é digna de um povo que até hoje nem sabe quem matou Odete Roitman.
É onde eu
te falo...