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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

OUTRA FACE DO PORTUGUÊS GENIAL



            Às vezes leio nos jornais aguados artigos sobre Literatura, os quais o articulista recheia de termos empolados e pouco inteligíveis que ele pinça a esmo dalguma apostila de rudimentos de sociologia e psicanálise, nos quais respinga a esgarçada ideologia dos falsos intelectuais. E é de ver como o entendido, num pó-pó-pó afetado, se contorce no afã de mostrar - inutilmente - que ostenta láureas e PhD em Letras. O leitor é conduzido a um cipoal de coisas vãs, que o autor do texto torna mais indevassável com seu linguajar desconexo, de propósito feito para mostrar falsa erudição e ocultar uma aparatosa superficialidade. Aurélio diz que isso se chama “vanilóquio”.
            Não faz muito, li coisa assim sobre Guimarães Rosa, onde o entendido  se espraia em banalidades de Lacan e até do dispensável Brecht. Ele estava, explicou, preparando um livro onde “fazia uma releitura” do Grande Sertão: Veredas. É de rachar. Incapaz de escrever o próprio livro, o sujeito faz "releitura" de livro alheio. Pura embromação. Esse tipo, o “releitor”, é como o chupim, ou godero, que invade o ninho do tico-tico e lhe destrói os ovos, para ali botar os seus próprios – que o tico-tico vai chocar.
            Assim acontece até com professores universitários de Literatura, que, por exemplo, comentando Eça de Queiroz, não vão além de generalidades sobre Os Maias  e O Crime do Padre Amaro, para dizê-lo um demolidor da Igreja e da sociedade portuguesa dos fins do Século XIX – o mais elementar que se pode dizer sobre o grande escritor: apenas truísmos. Esses são como os que foram a Roma numa dessas excursões econômicas e voltaram especialistas em Michelangelo só porque, num relance de cinco minutos, viram (espiaram) o teto da Capela Sistina.
            Nunca vi um desses especialistas falar sobre o Eça observador/analista/comentador/historiador, que criticou com rara ferocidade a política expansionista/colonialista que incendiou a Europa recém industrializada e fê-la cair como um bando de lobos faminto sobre as terras levantinas e africanas. Não falam do Eça liberal que combateu com fervor a brutalidade inglesa na Irlanda e no Afeganistão. Não, eles não falam disso. Não falam porque só leram, sob a orientação simplista dos seus mestres, dois ou três romances do genial português e nem se lembram, se algum dia o souberam, que ele também escreveu as magníficas Cartas de Inglaterra.  
            Nesse livro a Inglaterra padece. Santo Deus, como Eça cai de pau na Inglaterra, agora não com sua ironia fina, mas com o vitríolo da indiganção assomada  -  notadamente no célebre, e triste, episódio em que, no governo de Gladstone, os couraçados do Almirante Seymour despejaram sobre a indefesa Alexandria “os seus canhões de oitenta toneladas”. Quem quiser saber um pouco mais da história econômica do Século XIX, que leia as Cartas de Inglaterra. Eça esteve no Egito e foi testemunha das atrocidades britânicas, como da falácia do kediva egípcio Ismail-Pachá, das negaças do sultão Abdul-Hamid, o grão-turco, e dos fracassos do nacionalista bem intencionado Arabi-Pachá.
            Em certo trecho ele escreve que desde a abertura de Suez a Inglaterra sonhava com “um pretexto para assentar na terra do Egipto o seu pé de ferro, essa enorme pata anglo-saxônica, que uma vez pousada sobre território alheio, seja um rochedo como Gibraltar, uma ponta de areia como Aden, uma ilha como Malta, ou todo um mundo com a Índia – nenhuma força humana pode jamais arredar ou mover.”   
            História, teoria política, economia, sociologia, enfim, um panorama geral da Europa do seu tempo.
Eça descreve com a autoridade de quem viveu a época em que a demência efervescente surtou Inglaterra, França. Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica e Rússia, açuladas pelo terror que lhes inspirava Bismarck, chanceler e “morfineiro” terminal. Conheceu de perto os atropelos da corrida expansionista. A destruição de Alexandria pelos ingleses é contada em detalhes  - e, maior bem, na suculenta linguagem eciana. Um livro fantástico.
Quem ler verá, além do mais, que a falácia de Hirohito, arrancando sobre Pearl Harbour enquanto o seu Ministro das Relações Exteriores fingia negociar com Roosevelt, não foi uma novidade no campo diplomático: as potências européias tinham em andamento a Conferência de Istambul, justamente para “estudar a questão egípcia”, quando Seymour estraçalhou a pobre Alexandria. Como se vê, ler é preciso – mas ler coisa que presta, não porqueiras folhetinescas como O Código da Vinci.  

            É onde eu te falo...
                 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

E A BÍBLIA TINHA RAZÃO II



            Tirante os fanáticos religiosos, ninguém mais que eu gosta do Velho Testamento. Aliás, os esgoeladores de milagres gostam mesmo é do Novo, para mim uma sensaboria. Mas leio as Escrituras Velhas sem uma gota sequer de religiosidade; faço-o como diversão cultural.
            Deliberadamente escrito como epopéia de grandiloqüente de movimentos épicos, o Pentateuco, como, de resto, todo o Antigo
Testamento tem sintoma de rapsódia. Neles transparece sem remédio a digital mitológica, o sobrenatural primitivo que encharcava o seu redator. Melhor dizendo, redatores. Segundo a  opinio doctorum  (*)  - isenta de teologias e outros palpites - dados os gritantes anacronismos históricos que encerram, as claras diferenças de linguagem e estilo, mesmo os detalhes que apontam morfologias gramaticais diversas de um livro para outro e até no mesmo livro, é ingenuidade, ou má fé, dizer que os Livros de Moisés são obra de um único autor. Na verdade, resplandece que esses livros são obra coletiva, escrita por muitas mãos, em diferentes épocas. O que, absolutamente, não lhes tira o encanto.
            Pena é que os Jerônimos, Irineus, Theodósios, Dâmasos e outros enxeridos houvessem raspado ou inutilizados muitos manuscritos da época, aqueles que não lhes endossavam as doutrinas obsediantes; entre eles um ror de páginas que esses primeiros padres, num rasgo de atrevimento criminoso, atiraram ao fogo por serem... “apócrifos”. Como se os que preservaram  pudessem mesmo ostentar selo de excelência DOC  ou ISO.  Em nome da fé, esses desocupados arrogantes sumiram com boa parte da resenha mitológica – fraudando a Humanidade que, eles decidiram por sua alta recreação, não merecia por os olhos em textos heréticos...
            Mas nem tudo foi apagado ou alterado pelos tais Doutores da Igreja Ancestral. Ficaram coisas das quais eles não se deram conta, por descuido ou por ignorância. Dentre tantas, gosto de apontar uma passagem deliciosa. Ei-la, adiante.
Como redator da sessão legislativa que daria aos hebreus a Consolidação das Leis de Yahweh, Moisés subiu para os morros e lá ficou. Quando desceu, trazia uma coletânea de decreto-leis, dentre eles o Levítico – saboroso corpo de prescrições de ordem social, legal, econômica, filosófica, sociológica, política, sanitária, e coisas mais. Ler e reler o Levítico é garantia de ótimo divertimento. Por exemplo:    
Yahweh era um gourmet. Aliás, atentos à quantidade de bichos que os hebreus lhe assavam nos propiciatórios sagrados (dos quais se desprendiam “cheiros suavíssimos”), alguns preferem qualificá-lo como gourmand – que leva mais em conta o volume de comida. Fosse como fosse, Yahweh legislava sobre culinária; também. Assim foi que ele separou, na fauna da época, os bichos que os judeus podiam comer; e, claro, os fora dessa destinação, por serem impuros. Veja-se em Levítico XI -13 e 19  a relação desses últimos, dentre eles certas aves abomináveis (sic)  – como o... morcego !!!
Homessa! Então, morcego é ave, na subida opinião de Yahweh ! A comunidade Científica discorda de tão formosa qualificação, afirmando – em claro ato de blasfêmia – que esse bicho tão injustamente associado às Trevas, é, como todos os da Ordem Chiroptera, mamífero. Pois é. Dizem que a Bíblia é a pura palavra de Deus. Então, se Yahweh falou que morcego é ave, ave ele será, desde a origem e para sempre. Se palavra de rei não volta atrás, palavra de Deus não se discute. Bom, de qualquer modo, morcego assado não há de ser lá grande coisa e, portanto, Yahweh fez muito bem ao torná-lo proscrito da culinária hebraica.
            Gosto muito dos morcegos – não daqueles de Brasília, que chupam sangue. Assim, e como estou fazendo um sério estudo sobre as deficiências de polinização da flora nacional, minha meta agora é achar... ovos de morcego. Para chocar, claro.

(*) Opinião dos doutos           
            
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sábado, 22 de dezembro de 2012

A FERVOROSA (um conto, para variar)



            Lina da Venda, como se conhecia Bertolina Maltagliata, não era dona da venda. O pequeno armazém era do pai, filho de colonos que deixaram o Veneto nos fins do Século XIX. Encostado por conta de mijacão deformante, o vendeiro Oreste Maltagliato delegou os quefazeres do comércio a Lina, que virou Lina da Venda. Assim e como cismasse um vago parentesco com  Santa Catarina de Siena, tornou-se uma beata irredutível, daquelas que comem e bebem milagres e divindades, encharcada de uma religiosidade a todos os títulos patológica. Até na venda.
             Lá, enfeitava paredes e prateleiras com santinhos, cópias de orações a isso e àquilo, cruzes e imagens, os quais louvava melosa e demoradamente quando a vendinha estava vazia e antes de aviar os pedidos da freguesia. Um quilo de café?, dois quilos de fubá?, meio quilo de cebolas? – sim, ela tinha; só que antes de entregar a mercadoria ao freguês, este era instado a rezar com ela; conforme a lua, era obrigado a cantar ladainhas e “oremus” - o cliente, constrangido, meio em bocca chiusa, ela aos berros. Enfim, era a única venda do lugar; fazer o quê?
            Com o tempo o fervor religioso da Lina não se limitava às quatro paredes da vendinha, mas voava aos quatro ventos; em casa, na rua, nas casas que visitava e, claro – agora em tremeliques repicados – na igreja. E numa rezação sem fim, a cantoria desenfreada, Lina só dava descanso à boca quando dormia. Mas nem sempre: durante o sono vinham-lhe querubins e serafins, vestidos de rosicler, surgidos em meio às névoas da madrugada, com quais ela rezava e cantava as costumeiras latomias. Eventualmente, era freqüentada por íncubos, seres noturnos que lhe vinham acochar; nessas noites o sonho virava pesadelo, ela se debatendo entre o horror à luxúria e os reclamos da tesão, para depois se acasalar com o ente maligno, uivando no embate do coito enfezado. Aí seus cantos eram os do orgasmo copioso, berrados em meio a grunhidos arfantes e rilhar de dentes.   
O padre local, a pedido família, dos moradores da vila e por si mesmo, tentara, sem êxito, aplacar-lhe o furor religioso: – Baixa o facho, Lina! Exageros não são do plano de Deus! Exageros viram manias e manias deságuam em doenças, algumas sem cura – ele aconselhava. Quá! Cada manhã Lina cada dia surgia mais dominada. Acabou que na igreja, era como se fosse uma sacerdotisa tresloucada. Escolhia os cânticos, entrecortava os ofícios berrando hosanas e aleluias, inventava ritos e desautorizava o padre, intervindo-lhe nos sermões para encaixar coisas que lhe pareciam de alto fervor. Ousava cantar num Latim macarrônico, com especial devoção lingüística quando dava de entoar o Tantum Ergo no kyrie  ou o Ave Verum Corpus na homilia, subvertendo a liturgia. Chegou ao cúmulo de, em tarde de fervoroso Te Deum, interromper as rezas para situar Maria Madalena como esposa de Calígula e proclamar Cleópatra a “a maior felatriz  de Sodoma”. Decididamente, Lina endoidava a olhos vistos.
Corria o Advento. Lina, nas agruras do climatério, surtou: deu de, ela sozinha, fazer a cena da Natividade. Arranjou vestimentas de todos os figurantes, os quais ela mesma representaria. Trocava-se na sacristia e voltava ao presépio armado no altar, ora vestida de Maria, ora com a túnica de José, ora com os ornatos dos Magos, às vezes fantasiada de ovelha, vaca e burro. Até que, sendo o Menino Jesus, entrou no presépio vestindo apenas fraldas e uma camisa-de-pagão. Foi um rebuliço infernal, inclusive porque os homens puderam ver, pela vez primeira, as coxas da Lina e vislumbrar-lhe os contornos peitorais, que, embora caídos, fizeram sucesso. No pandemônio, o padre desmaiou.
  Passada essa fase, Lina ficou impregnada dos mistérios da transubstanciação. Cismou de consagrar as hóstias. Aí o padre embicou. E explodiu: dela tolerara tudo, compreendendo-lhe a enfermidade, para evitar a cizânia (na verdade temia perder as gordas espórtulas que lhe dava Oreste Maltagliato, que, indiretamente, subvencionava os desmandos devocionais da filha). Mas Lina ultrapassara os limites: Chega, sua maluca!  Consagrar é ato privativo do padre, entendeu? Espumando raivas, ameaçou excomungá-la. E, prevendo desatinos futuros, pediu e obteve da Cúria um interdictum prohibitorium  que a impedia de entrar na igreja. Aí, justamente, Lina chegou à demência absoluta.
Então, para se vingar do padre que não lhe queria conceder o privilégio de consagrar hóstias, desandou a consagrar quanto se fazia de farinha e fermentos. Entrava nas casas e consagrava pão velho, resto de broa, bolachas, o que encontrasse. Quando o povo, amedrontado, lhe cerrou as portas, Lina invadiu a padaria da vila e consagrou quatro cestos de pão francês, 29 baguetes e 18 roscas-da-rainha, sem contar as fornadas inteiras de pão-de-queijo, quebra-quebra, rosquinha de amoníaco, biscoito de polvilho e brevidades. Preventivamente, consagrou até massa posta a levedar. E, como era tempo de Natal, consagrou 33 panetones!
                                                                              ------------------
            Lina, hoje agnóstica, está internada em nosocômio na Região das Vertentes; ainda. Abandonou a idéia de ser sacerdotisa e virou livre-pensadora. Expulsou também os querubins e os serafins da noite. E, na sua cabeça, se casou com Asmodeus, a quem trai com dois ou três íncubos sacanetas.

É onde eu te falo...     

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

MEDICINA E IDEOLOGIA ...



            O médico venezuelano José Rafael Marquina não aposta alto na recuperação do seu presidente, nesta altura. E deplora que Chavez, ao invés de se internar em centros experimentados no tratamento do câncer, entregou-se aos médicos cubanos, que não têm tirocínio na especialidade. Diz o Dr. Marquina, todos os tratamentos que Chavez recebeu em Cuba foram totalmente inócuos e agora não se lhe pode atribuir sobrevida além de três meses. Diz ele:
“Chavez  foi operado e recebeu quimioterapia em abril passado. Três meses depois  houve a recorrência do câncer, muito mais agressivo. Em qualquer outro hospital, como Sírio Libanês, em São Paulo, ele teria um tratamento muito melhor. Cuba não tem experiência para manejar esse tipo de doença”.

            É o tal negócio. Da sua especialização em oftalmologia e de algumas conquistas dermatológicas, Cuba foi elevada pelos cortesãos de Fidel (e pelos demais babacas) às culminâncias de maior centro médico do Planeta. Exagero puro. Castro é um tirano poderoso, mas o seu poder de bambambã mofado acaba nos limites da Ilha e da sua capacidade de pensar desatinos e gritar absurdos. Ele se acha todo-poderoso e sua claque o tem como capaz de apagar o sol, mas esse “achismo stalinista” é uma ilusão tão grotesca quanto a imaginada eternidade do muro de Berlim.
            De aluno aplicado, Chavez virou um fanático apaixonado do ditador Fidel e essa fascinação patológica o levou a crer que o “paraíso cubano” era a reedição do Paraíso Terrestre. Tanto crédito fê-lo supor que bastava uma ordem de “el comandante” para escorraçar a enfermidade que somente especialistas de comprovada experiência podem tratar a contento. Mas, não. Foi no canto da sereia bolchevista e se danou – a julgar pelas palavras do seu conterrâneo, o Dr. Marquina.
            Há garantia de que Chavez se recuperaria tratado no Sírio-Libanês? De modo nenhum. Inda mais quando se trata de câncer. Mas, é irretorquível, num centro especializado pelo menos havia boa expectativa de sucesso. Em Cuba só havia uma, só uma, expectativa: a do insucesso - visto que os médicos cubanos não são capacitados para o tratamento do câncer. Assim informa o Dr. Marquina. Noutras palavras, aos cubanos faltam-lhes as manhas de enfrentar a terrível doença.
            É lícito admitir, ante a afirmação do médico venezuelano, que Chávez morre daqui a pouco. Ouvi dizer que, então, para os cortesãos cubanos, políticos e padrecos não-cubanos, Chávez vai virar um mártir do bolor marxista-leninista: Viva Chávez! Ele preferiu a morte a desprestigiar a medicina de El Comandante!  O compañero Chávez se deu em sacrifício para honra e glória de la revolucion !
            Mas nesses gritos de ordem os “congressistas” estariam reconhecendo abertamente a incompetência dos curandeirice cubana, coisa de que têm mais medo do que o Diabo tem da cruz. Assim, o tal congresso será a portas fechadas, em Havana. Também me disseram - não sei se procede - que esses “congressistas” já torcem para que Chávez morra o quanto antes: o tal congresso será mais brilhante se nele Castro estiver presente... e este já está em mora com o alfange da Morte faz tempo.

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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

A DIFERENÇA É A QUALIDADE...



            O mundo ficou pasmo quando explodiu o affair  Bill Clinton/Mônica Lewinsky. Pudera! Fornicações não eram exatamente um hábito nos tapetes da Sala Oval – nem mesmo, ao que consta, nas vielas escuras da Casa Branca. No entanto, aconteceu. No torvelinho da tesão fulgurante, Mr. Clinton e Miss Lewinsky  se esqueceram  (talvez nem o conhecessem)  do ditado saborosamente mineiro: “não se come a carne onde se ganha o pão”. Dizem que a coisa era brava. Ao ponto de a águia-símbolo das armas americanas que, atrás da cadeira presidencial, olhava para a esquerda, virou o pescoço para o outro lado e, por conta de lumbago mal curado, está assim até hoje.
            Não se procede, mas correu que Mônica, a estagiária, até que não era lá muito fissurada no presidente e que só deu uma de encantadora de serpente em razão do tremendo poder do... quero dizer... da... dela... da própria. Ofídios são bichos poderosos. É elementar : um sujeito que pode fazer e acontecer só com um telefonema, pode igualmente - e o faz - arranjar benesses e outros prêmios, no mais das vezes, imerecidos.
            Meu velho amigo, o faquir Rahjwapapuh, dá versão diferente. Segundo ele, indivíduo de largo entendimento, a causa material do babujante episódio foi apenas uma questão de afinidade musical: Clinton era ótimo saxofonista; Mônica, igualmente dada aos concertos, não apenas soprava a clarineta com maestria, como – literalmente - punha a boca no trombone. Ora, a união de sax, trombone e clarineta é, também consta, uma invenção tipicamente americana, criada pelo bandleader   Glenn Miller, que estourou na época do swing. Portanto, nada mais natural que o par chegasse, democraticamente, aos solos e às harmonias republicanas. Sem contar, acrescenta Rahjwapapuh, que Miss Lewinsky, quando esteve em Belém do Pará, degustou um picolé de mandioca-brava, ao qual muito se afeiçoou.
            O affair, que poderia ter severas repercusssões políticas, foi contornado também graças à coragem de Clinton. Cabra macho, aquele! Reuniu a Imprensa e confessou o seu deslize: teve, de fato, “atitudes impróprias” com a gorduchinha polaca, erro do qual se penitenciou e pelo qual pediu desculpas ao povo americano. Nada de negações inconsistentes.
            Agora, veja como são as coisas. Nos Estados Unidos o “trem” é diferente; não apenas por força da evolução mental, como também porque lá a mídia é feroz - e não quer saber se as prevaricações oficiais envolvem figuras de proa: simplesmente solta os cachorros nos calcanhares do prevaricador. Fosse numa dessas repúblicas de ôba-ôba, os sabujos se esfalfariam nas famosas “blindagens” e o calhorda viajaria para o exterior, gritando: “eu não sabia de nada”,  e coisas desse naipe. Como na velhíssima propaganda das massas Piraquê, “a diferença é a qualidade”...          
            Seja como for, um acontecimento assim pode assumir contornos além do ridículo em si. Pode chegar ao rudimentar monstruoso. Como? Ora, Clinton, um cara bem apanhado, escolheu uma jovem polonesa deveras apetecível para os deleites salivantes; já um desconchavado manipanço subvencionaria uma velhota sem viço para o papel de go-go girl  presidencial. A Piraquê tinha razão. 

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

OTEATRINHO DOS HORRORES




            Quem já assistiu a filmes sobre o tempo dos Césares certamente leu, em cártulas e estandartes, a inscrição SPQR, ou seja, Senatus PopulusQue Romanus, Senado e Povo Romano, temas importantes... para Roma Antiga. É claro, o Senado Romano não era tão aperfeiçoado quanto o do Brasil de hoje; naqueles tempos o plenário e a mesa diretora da instituição senatorial romana não se adornavam - como hoje, aqui - com personagens de tão formosa linhagem.
Pontificou lá um tal Marco Pórcio Catão, vulgo o antigo. Ao que li e concluí, Catão era neurastênico, vagotônico e confuso, enfermidades que, também creio, desaguaram em exacerbações de fúria destruidora e bazófia, conseguintes naturais desse quadro patológico. Não passava um dia sem que ele, nas sessões do Senatus, deixasse de gritar: - Cartago deve ser destruída!
Até que Roma decidiu mesmo destruir Cartago, reino siciliano que batia de frente com o Império na corrida comercial; sem contar que os cartagineses se erguiam como sérios adversários militares. Ora, Mediterrâneo, Tirreno, Jônico e Adriático, eram um formidável escoadouro comercial que interligava negócios europeus, africanos e asiáticos, sem contar a relativa proximidade do Egeu e até do Mar Negro. Enfim, uma região de entrepostos fervilhantes de carga e descarga. A supremacia naval e comercial nesses mares era aspiração geral. Daí o mote da guerra: o comércio move o mundo; comércio gera dinheiro; dinheiro gera poder. Guerras, santas ou profanas, têm o mesmo DNA: a busca do poder.
Bom, Roma desabou sobre Cartago. Foram três incursões militares, denominadas Guerras Púnicas, nas quais ganharam a palma Amílcar, Aníbal, Cipião, o africano, alguns elefantes e outros atores que se repicaram nas ribaltas da História que se estudava no curso ginasial. A frase recorrente ganhou o mundo: - Cartago deve ser destruída! – berrava Catão, o antigo. 
Hoje, Ahmadinejad, o moderno, atazana o mundo esgoelando sem cessar: - Israel deve ser destruído! E enquanto esgoela explode rios de saliva hidrófoba, entre dentes arreganhados e esgares de furor demente. O iraniano se imagina reencarnação de Ciro, o persa, e finge que tem voz ativa. Na verdade é apenas um boneco manejado pelos aiatolás. Curiosamente, é imediata a ligação sonora entre o nome próprio Ahmadinejad  e o qualificativo manejado ...
Por sinistras razões, a Chancelaria brasileira (também a mando) aplaude freneticamente o bailinho do mamulengo aiatolínico  (seria aiatolítico ?). E se desvanece em copioso orgasmo ideológico ao vê-lo dançando suas desconjuntadas cirandas de guerra na ribalta dos ulemás iranianos que lhe movem os cordões. Esquecem-se os persas de hoje, também os aplaudentes brasileiros, que a guerra púnica do Iran contra Israel não seria tão laureada quanto as de Roma contra Cartago. Israel tem um dos melhores, se não o melhor, serviço de inteligência do Planeta, o MOSSAD. A dificuldade não leva o sapo a pular? Pois os judeus, costumadas vítimas de pogroms e raids punitivos, já não são a Geni  -  “joga pedra na Geni, joga bosta na Geni”. Quem não lembra? Daí, pode se desenganar quem pensa que o manejado pode destroçar Israel só com truculência e rosnados. Antes da iniciativa iraniana já o Knesset terá autorizado a imediata ação militar israelense; mesmo sem autorização do Parlamento, os discípulos de Moshe Dayan, o caolho, estarão em feroz arrancada contra a república teocrática dos persas modernos. “República” virou um termo tão avacalhado que até parece...
O que virá daí não se sabe. São inimagináveis as conseqüências dessa guerra. Segue-se que os poltrões inconsequëntes (todos eles) andariam melhor se assumissem posturas responsáveis, com atitudes sérias, dignas de verdadeiros estadistas. Mas, não. Ao invés, incentivam o manejado, como se ele fosse mesmo capaz de pulverizar Israel só com um berro. Inda uma vez lembro o ditado do passarinho que come pedra – aquela ave a que tanto me refiro em textos anteriores. Ai de quem não se precata.

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domingo, 9 de dezembro de 2012

... Y LOS SUEÑOS, SUEÑOS SON ! (Calderón de La Barca, Séc. XVII)



            Deu nos jornais de hoje: gênios políticos querem que Dona Dilma construa uma nova embaixada do Brasil em Cuba. Justificativa desse formoso plano: era aspiração antiga de Niemeyer, que já em 1953 desenhara o respectivo projeto, em religiosa homenagem à memória do Santo Josef  Stalin. Assim e como o arquiteto morreu sem ver o seu sonho realizado, é digno e justo que o povo brasileiro enfrente os custos desse mimoso troféu à ditadura de Castro – o governo mais democrático da História do Planeta.
            Para uma nação milionária que tem caixa para presentear Evo Morales com um formidável complexo pago pela Petrobrás, realizar o sonho do Dr. Oscar é uma atitude tão prosaica quanto beber um copo de água. Como se diz vulgarmente, é despesa que “sai na urina”. E mesmo que não saia, a edificação de uma curvilínea embaixada em Havana muito contribuirá para a evolução da Humanidade. E os gênios poderão dizer, parodiando Cecília Meirelles, “o mundo ficou muito melhor depois dessa obra”. Que... obra!
            Mas, vá-se desenganando quem supõe que vai ficar só nisso. De fonte certa, ouvi que o andaço de presentear os chamados alinhados permanece exacerbado: além da embaixada de Havana, os mesmos gênios querem tirar da gaveta mais dois (na verdade, quatro) sonhos e projetos arquitetônicos de raras curvidades, a saber:
a) um SPA 50 estrelas, em Buenos Ayres, onde Cristina Kirshner tentará conter o galope das suas muxibas, já inescondíveis;
a’) um Salão Grená privativo da presidente argentina, que, já embonecada, poderá rebolar na coreografia feroz de suas “milongueras pretenciones”, com direito a Gardel e Piazzola.
b) um apocalíptico complexo de piscicultura, em Caracas, só de peixes de carne branca, para suprir a pantagruélica mesa de Hugo Chaves com toneladas diárias de ceviche;
b’) um “cebolal” de dez mil hectares, para suficiente produção das cebolas que vão temperar o ceviche do glutão, pois não se faz esse prato venezuelano sem bastante cebola, que é para o conveniente estímulo dos flatos .
Esses quatro empreendimentos – todos arredondados em vastas parálobas, ogivas e elípses - correrão à conta do Tesouro Brasileiro, da demarcação dos terrenos aos custos de pessoal e aos almoxarifados. O que não é demasia alguma, se a contrapartida é a realização de velhos sonhos ideológicos. Depois, vêm com as costumeiras arengas: falta dinheiro praísso, falta dinheiro praquilo e pranunseiquemais. Como se vê, o Brasil ainda é o campeão quando se trata de estabelecer as prioridades corretas.    

É onde eu te falo...

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

COMO ERA DOCE O MEU CHÁ DE ALECRIM...



            Hollywood tem obsessão por carro em alta velocidade; de preferência com avanço de sinal, corrida na contra-mão e – esse é o seu maior deleite – com abalroamentos descomunais e trombadas que espatifam veículos e condutores. Depois, gosta de mostrar a incompetência da sua polícia ostensiva que, além de perder as corridas para os bandidos, avisa-os da sua chegada explodindo  sirenes. Os comentários dos espectadores são os mesmos: Gente! Por que a polícia se antecede de estardalhaços, quando poderia surpreender os meliantes? Ninguém sabe a resposta, mas todos estranham.
             Como a sociedade brasileira estranha as pérolas, legais ou não, que permitem - aliás, obrigam – as autoridades a soprar fumaças escamoteadoras em determinadas investigações: antes de iniciar suas atividades investigatórias, a polícia adverte os vagabundos: - “Ô, cara! Se liga e dá teu jeito, ô meu, que dipois de dipois damanhã a oito dias nós vai vasculhá o teu galinheiro, tá sabêno, ô malandro?  
            È claro que o aviso não é dado nestes termos; mas deveria. Deveria, sim, ser dado em linguagem bem chula... consideradas as circunstâncias. Mas não é assim. O aviso, editado com antecedência razoável – por motivos óbvios – é enviado no juridiquês mais empolado, nos termos do parágrafo x do artigo tal da lei qual, modificada pelo decreto y combinado com o artigo w, “caput”, e respectivas alíneas III a XXXIX e do artigo x+y da lei tal, que alterou o decreto x+z... etc. Esses penduricalhos, de tão rara excelência, é que conferem validade legal à investigação (dita sigilosa) e resguarda os delinqüentes da surpresa, segundo o “due process of law”. 
A notificação prévia dos trastes, suspeitos de trapaça ou claramente envolvidos nelas, permite-lhes esvaziar gavetas, queimar arquivos, sumir com indícios e outras medidas de... cautela. Os bandoleiros, é claro, se preparam. A investigação, quando dá com alguma coisa útil, é por descuido dos envolvidos, que se esqueceram de ocultar um memorando safado ou um bilhetinho de amor proibido. Pouco se apura mas a diligência investigatória está salva, devidamente molhada com baldes e caçambas de inteireza legal e juridicidade plena, segundo os cânones do Estado Democrático de Direito, etc., etc., etc.
          Assim foi vasculhada a célula paulista da Presidência da República, avisada com boa antecedência por ordem judicial. Acharam-se miuçalhas, apenas, inclusive restos de um chá de alecrim numa xícara suja. Mas não estranhem. É de preceito que esses avisos sejam expedidos quando a investigação será feita em... “setores muito sensíveis” (!!!) da Administração Pública. Pois é. As leis visam a proteger a sociedade e as... mas, às vezes, só teoricamente, né?
           Ah! Já ia me esquecendo: como é, mesmo, “alecrim” em Inglês?

            É onde eu te falo...

sábado, 1 de dezembro de 2012

AI DOS PASSARINHOS INSENSATOS...



            De Vargas a Jango, foi a casinha feita de guloseimas, como a da história de Joãozinho e Maria; nos governos militares virou carro alegórico, cujo tema era o Tesouro de Golconda, a instituição dos salários régios dos “Príncipes da República” – título que antes pertencia aos antigos funcionários do Banco do Brasil; de uns anos para cá é um “barracão de escola de samba”, onde o zabumba da bateria marca evoluções de alas e passistas que dançam o lundu partidário. Eis, ao que consta, a carreira da Petrobrás.
            Passou por mudanças de perfil mas  (também consta) nunca se livrou do seu estigma de nascença: a incompetência administrativa. A Petrobrás, como os católicos, já nasceu com o “pecado original”, fadada à gestão de apadrinhados sem tino – curiosos enfatuados com pose de gênios. Além disso, consta que... Mas, não! Acho que estou dando muito ouvido ao que consta. Creio que há exceções. Claro que há; sempre há, principalmente se procuradas com uma poderosa lente de aumento.         
            Seja como for, não se atina com todas as razões (verdadeiras, não de embromação) que levam uma grande empresa, que vende produtos fundamentalmente essenciais para a vida moderna, a viver em constante apertura financeira. Motivos há. Cessão quase gratuita de combustível brasileiro a “países amigos”; conchavo político-ideológico para presentear governo alinhado com o direito de invadir e “nacionalizar” bilionárias instalações pagas pela empresa brasileira; desvio de fundos para fins nebulosos, patrocínio de festivais de mau gosto, por exemplo, estão entre esses motivos, conforme consta - fora os que... não constam. 
            A voragem fiscal, típica do Brasil, leva o Governo a por as montadoras em regime de produção de guerra, porque a ordem é explodir as estatísticas da compra e venda de veículos. O país se transforma num apocalíptico novelo de carros que trafegam dia e noite. O Brasil engarrafa; e não sai do lugar. Antes foi a ordem aos bancos para financiar veículos em até 500 meses. Deixe que comprem! Brasileiro é burro; não olha o custo do automóvel; só verifica se a prestação cabe no seu orçamento!  Ora, arrecadar é preciso; e cada vez mais. Afinal, o custeio da máquina estatal hipertrofiada não é batatinha. Pois não transformaram o Estado brasileiro num “vasto paquiderme”? (a expressão é de Machado de Assis). 
            Então, a inexorável lei de causa e efeito desce o porrete: malfeitorias geram malfeitos. Políticas rudimentares não deságuam em mar de rosas. E assim o consumo de combustível chega ao patamar da estupidez. Resultado: o Brasil não tem combustível suficiente para enfrentar esse desatino. E la nave va...
            E estou, muito refestelado, lendo a minha VEJA, quando viro a folha e dou com quem? Será que é a... Não, deve ser a... Pois não sei quem é. Parece uma improvável mistura de Morticia Adams e Maga Patalógica, mas não sei. Não concluo até bater os olhos na legenda. Ah, sim, agora reconheço. Ora, que memória a minha! É a Graça Foster, presidente da Petrobrás, mandando aos brasileiros a sua doce mensagem natalina: o preço dos combustíveis será majorado em 15% !!!
          Disseram-me que ao Brasil falta tenência, além de um pouco de humildade. E fico pensando: seria bom que os brasileiros se lembrassem das singelas verdades da gente do mato; matutos e mateiros, sempre sábios, têm um lema como diretriz de vida: “passarinho que come pedra sabe o cu que tem”.   
             
            É onde eu te falo...