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terça-feira, 30 de outubro de 2012

INFAMES, TORPES E BOÇAIS




            Considerando a mania antiga de dizer que qualquer um é “meu próximo”, de quantos conselhos inexeqüíveis já ouvi, nenhum é tão absurdo quanto  “amar o próximo” – quando não se distingue esse próximo. Há próximos a quem se deve amor e “próximos” que, até por não serem próximos, merecem o inferno em vida e depois dela. Não é meu próximo, por exemplo, um boçal torpe que faz o mundo feder só por existir; e que fala pela bunda. Não posso amar uma coisa assim; nem os que aplaudem essa coisa – igualmente torpes e boçais. Esses não são gente, mas algo que torna sublime o nojento resultado do purgante intestinal. Quem (tirante ela própria) pode amar a... merda infame?   
Essas excrescências, uma praga, não pertencem ao gênero humano; nem se catalogam como integrantes do mundo animal; animais são seres maravilhosos, que merecem respeito. Portanto, não sendo gentes nem animais, não podem ser amados. Quando Voltaite, o ilustre, recomendou: “Écrasez l’infame!” – massacrai o infame – ele usou “infame” referindo-se ao poder que tinha a Igreja para prender, torturar e matar. De fato, infâmia em grau superlativo. No entanto, menor que a dos torpes boçais. Essa chusma comete crime de lesa-humanidade só por respirar o nosso oxigênio.
A Igreja, que assou milhares de “próximos”, bem que podia tomar tenência e retomar o seu antigo poder de eliminação dolorosa e definitiva – mas, entenda bem, exclusivamente para aplicar o seu furor piromaníaco sobre as excrescências acima referidas, tostando-as, vivas, nas labaredas purificantes. A purificação, aí, não seria das excrescências, porque essa coisa não se purifica jamais; o mundo é que seria purificado. Alguns dão a isso o nome de “profilaxia social”. Seria ótimo, mas tão perigoso quanto uma acha de fogo num barril de nafta: os pirômanos são muito responsáveis pelo alastramento da praga. 

 É onde eu te falo...          

domingo, 14 de outubro de 2012

O QUE É A VERDADE ?



            A Walmo Soares Vianna, que dentre outros predicamentos, é violonista de alto nível, faixa preta e até oftalmologista.

            Lançado pela editora Civilização Brasileira, “As Duas Guerras de Vladmir Erzog” -  o jornalista judeu iugoslavo, que ultimamente vem se hospedando nos jornais. Pessoalmente, jamais acreditei que ele se tenha enforcado com um cinto. Da mesma forma que não engulo o “suicídio” do inconfidente Cláudio Manoel da Costa, notoriamente morto junto à estante (fio-me em documentos da época) em que ele teria atado aos cadarços em que se enforcou. 
            O que me faz descrer desses suicídios? A obviedade. O jornalista e o inconfidente tinham os pés à altura do chão. Ora, o que mata o enforcado nem é a asfixia, mas a quebra do pescoço, provocada pelo tremendo arranco do laço enquanto o executado cai em queda livre. Ninguém, eu acho, se esganaria puxando o pescoço contra a corda até que os pulmões arrebentassem por falta de oxigênio; o instinto de conservação o faria desistir na última hora. Aliás, li que os suicidas, no último instante, quando a situação já é irreversível, se arrependem do seu gesto. Portanto, para mim e independente do que possam achar, Erzog e Cláudio Manoel foram prosaicamente assassinados.
            Conforme entendo, o autor do livro, Adálio Dantas, acaba situando que o jornalista não deve ser elevado aos píncaros de mártir só porque teria sido assassinado no DOI-Codi, mas colocando-o, ao que me passa, na condição de protomártir da luta contra a censura que o governo militar impunha às publicações jornalísticas. Concordo. A esquerda festiva adora um mártir, inda mais quando ele faz parte do seu coro ideológico; um mártir bem administrado rende saborosos dividendos políticos. Mas Erzog foi, e isso deve ser ressaltado, a primeira vítima imolada na escaramuça contestatória da censura, justa razão para que seja devidamente enaltecido e lembrado. Oxalá os brasileiros se guiem por essa luz, ao invés de - como lhes vêm ensinando os corvos ideológicos - considerá-lo, num reducionismo cretino, apenas como opositor ao governo militar. Vladmir Erzog lutou contra a censura, não, própria e simplistamente, contra um regime de exceção.
            Agora, vem cá. O lulopetismo, comandado por José Dirceu, tentou n vezes implantar a mesma censura no Brasil, sob a rubrica de “controle social da mídia” – eufemismo canalha para censura jornalística. Não é de rachar? Essa desgraça só não aconteceu graças à Imprensa e a Ministros do Supremo Tribunal Federal; aquela, através de artigos e editoriais combativos; estes, pela advertência pública sobre a merdeza político-intelectual de semelhante “controle”. O Parlamento, esse, por si, pouco fez.
            Por isso é que digo: a imprensa livre e a “longa manus” da Justiça (se igualmente livre de magistrados comprometidos) são os verdadeiros garantes da Democracia. Dirceu, o mandarim do lulopetismo, aprendeu com Castro e com os ogros da Duma Soviética que só podem circular publicações afinadas com a “intelligentzia” oficial. O Pravda, na Rússia Soviética, e o Granma, em Cuba, são os grandes exemplos desse tipo de imprensa – que não é  Imprensa (com “i” maiúsculo), mas reles variação do papel higiênico (usado)...
            Então, pergunto: se o tal “controle social da mídia” houvesse sido implantado no Brasil, quem seria a segunda versão de Vladmir Erzog? “Pravda” em russo, significa “verdade”, ao que me informam. Pois é, existe mais de uma verdade. Segundo as Novas Escrituras, Cristo teria perguntado: Quid est veritas? - o que é a verdade? Ora, responda, você. 
             
               É onde eu te falo...
    

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SINAIS PERCEBIDOS POR UM BAMBAMBÃ AMADOR



         
Para Antônio Ferederico Bastos, barbacenense  de São José  dos Campos, coronel da Força Aérea,    fisósofo, filólogo, musicólogo e outros "ólogos", enófilo costumado, doutor em tecnologias muitas e ciências afins; e, acima disso, um sujeito de "acrosiladas vertudes"



            A sociedade brasileira acompanha atentamente o custoso julgamento da Ação Penal 470, que versa o dito Mensalão pelo Supremo Tribunal. E com a mesma atenção, assunta o desdobramento das reações inconformadas que manifestam os condenados semanais e respectivos parceiros ideológicos. Eu já previra aqui esse fenômeno; como, de resto, prevera qualquer pessoa lúcida. Seria ingenuidade imaginar que réus e alinhados acatassem, sem tugir nem mugir, o caudal de condenações que, três vezes por semana, a Corte pronuncia a grosso e a retalho.
No fundo, pouco se me dá que os chamados mensaleiros sejam condenados ou absolvidos. A tarefa de julgar é do Poder Judiciário, não minha. Então, fico naquela: hipótese 1 – eles são condenados; se eu estou de acordo, tudo bem; se não estou, a minha discordância não os absolverá; hipótese 2 – eles são absolvidos; se eu estou de acordo, tudo bem; se não estou a minha discordância não os condenará. Sendo assim, que se arrumem pra lá os réus e os julgadores.
            Todavia, os sinais são inquietantes, a julgar pelas informações da mídia. Os condenados, com o halo santificado de vítimas heróicas, desmerecem as decisões da Corte, dizendo-as falaciosas, injustas, de exceção, parciais, políticas e sem a devida escora probatória; e os alinhados promovem eventos de desagravo àqueles. Ou seja, o sujeito pratica um crime, é condenado por ele e é aplaudido como herói. Se bem entendi, delinqüir enaltece o criminoso!
            Mas, espera aí. Desde quando praticar um crime e ser pronunciado criminoso pela Justiça é razão de aplauso? Acho que estou ficando doido. Até pouco tempo eu supunha que a prática do crime era uma desonra e que o lançamento do criminoso no “rol dos culpados” era uma nódoa. Vejo que estava enganado; e só agora percebo como as coisas são nestes tempos de demência: ser criminoso e ser apenado pelo crime são fatos que engrandecem. Homessa!
            Não era para ser assim. Se o Poder da República encarregado de julgar diz que eu sou criminoso, a sociedade deve aceitar esse pronunciamento, não me encher de loas e cantar madrigais em minha homenagem. Mas não é o que acontece. Os condenados e seus alinhados rugem diatribes contra o Poder Judicante, no que contam, aliás, com jornalistas de grande penetração. Há semanas venho lendo os artigos da Sra. Teresa Cruvinel. Implacável, rude, mão pesada, justiceiro, ou predicados similares, eram o mínimo que ele endereçava ao Dr. Joaquim Barbosa. Quando este, no seu feitio desabrido, informou que “o Supremo Tribunal não deve satisfação a ninguém”, não se conteve a jornalista, com inescondíveis respingos de irritação, perceptíveis nas dobras do seu texto. Disse ela, mais ou menos assim: É, pode ser assim, mas não se deve esquecer da História, que embora chegante sempre atrasada, também faz os seus julgamentos... Pois é. Para bom entendedor...
            A questão é que Brasil ainda não se despregou do pecado atávico de só achar fedorentos os crimes dos marginais de rua e de recalcitrar ante a condenação de figurões. A frase “ sabe com quem está falando? ” ainda tem severos efeitos psicológicos nestas plagas tupiniquins. Efeitos daninhos, claro.
            Tomara que eu esteja enganado, mas me assalta o receio (justo receio, como diz a lei) de um encadeamento de desatinos prestes a desabar sobre a Nação. Parodiando o ótimo Alceu Valença,
“eu já escuto os teus sinais”. Não é exercício de futurologia nefasta; é medo. Medo de quem já viu coisas e tem razões de não duvidar de muitas delas. Costumo ser bom nisso. Aliás, também parodiando, tomo do excelente e saudoso João Nogueira um pedaço de frase para emoldurar os meus poderes de vidente amador: nessas coisas eu também sou bambambã.  
           
   É onde eu te falo...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

TOMA TENÊNCIA, GENTE !




(Para Sérgio Inglês de Souza, enófilo de longo curso, que pensa antes de falar e gosta de regionalismos pitorescos) 

             Esses jornalistas mal informados não se emendam; nem os respectivos editores, que não lhes corrigem os erros escritos e falados. São profissionais da mídia que nunca leram Humberto de Campos; a maioria nem sabe de quem se trata. Arrogantes e orgulhosos dos seus desconhecimentos, escrevem e falam besteiras com a maior desenvoltura; imaginam-se excelentes e supõem que o  leitor é um idiota. Sem medo, nem preocupação, avacalham o idioma soprando os trombones difusores das suas impropriedades lingüístico-gramaticais (notem que não dispenso o trema, cuja supressão decorre de um “acordo gramatical” que desprezo). Mas não há edição de jornal, escrito ou falado, em que esses bocós deixem de mostrar a sua indigência vernacular.
            Hoje, numa leitura rápida, me deparei com três pérolas jornalísticas. Uma, de ordem culinária; duas, de ordem jurídica. Ei-las, a seguir, no mais puro caçanje de jornalista sem tenência.
           Do filé mignon se retira uma porção grossa que vai para a grelha, onde tosta por fora e permanece bem rosada por dentro – aliás, muito ao gosto de Gioachino Rossini, o do Barbeiro de Sevilha. A essa delícia os franceses chamam de tournedos, que vem do verbo tourner (virar-se, girar, volver, etc.) e do substantivo dos (costas, dorso). Nos restaurantes de primeira linha  é personagem obrigatório no cardápio. O melhor que comi me foi servido no hoje extinto Le Bec Fin, no Leme, quando eu, mal entrado na adolescência, estava no Rio de Janeiro. Um sonho, aquele tournedos... A propósito, em Francês se diz “turnedô” - exatamente como o Aurélio grafa em verbete. 
            Pois o famoso prato, principalmente em Belo Horizonte, virou... “tornedor" !  Mas o que vem a ser “tornedor” ? Ninguém sabe. A desinência “dor” sugere atividade, dedicação, especificidade, essas coisas, como do étimo caça vem caçador e de ralo, ralador. Então, não se atina com o que possa ser esse tal tornedor, já que o étimo não existe. Ora, se caçador é o que caça e ralador é o que rala, “tornedor” seria aquele ou aquilo que... torne  – um desatino, pois o idioma desconhece o verbo “torner”. Nem se pense no verbo “tornar”, pois aí o bife seria “tornador” – pior ainda. Francamente, senhores, sobre ser mostra de desconhecimento, é uma injúria culinária, pois não?
            Noutra página do jornal, artigos assinados sobre o julgamento do Mensalão. O signatário apregoa que o Ministro Joaquim Barbosa “pediu” a condenação de José Dirceu! É ignorância em grau superlativo. O juiz não “pede” a condenação do réu: condena-o. Quem pede a condenação é o acusador, no caso, o Ministério Público.
            E no caderno de esportes alguém escreve que o Clube Tal vai “entrar com um efeito suspensivo” contra a condenação do seu atleta pelo Tribunal Desportivo. Aí dói. O que o clube pode fazer é requerer a suspensão temporária dos efeitos imediatos da condenação: o Tribunal, ao receber o recurso contra a decisão condenatória, pode, se lhe parecer adequado, imprimir a esse recurso o efeito suspensivo. Ou seja, não se executa a decisão até o julgamento do recurso. Ah, que coisa mais difícil de entender, hein?
             A última vez que vi alguém “entrar com um efeito suspensivo” foi na roça, lá pros lados de Santana do Garambéu. Zé Laureano, vítima de feroz diarréia, estava naquela de (como na linguagem rude de lá)  “cagar sem o cu saber”; não havia o que lhe estancasse a vasa humilhante. O médico do posto receitou comprimidos disso; nada. Prescreveu comprimidos daquilo; ainda nada. E o Zé, lá, se esvaindo. Já nem se levantava da latrina; não dava tempo.
Diligente, sua mulher, Dona Franquilina, tomou a iniciativa: “Esses remédio de farmácia é inganação. Vô intrá c’o remédio da minha mãe.”  E preparou uma tisana forte de folhas novas de goiabeira que deitou goela do marido abaixo. Pronto! A caganeira secou; foi suspensa. Milagre? Não. Dona Franquilina havia “entrado” com um... efeito suspensivo.

 É onde eu te falo...