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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

PAOLA, DITONGO DECRESCENTE


“Bem, cada um se entende a seu modo” (André  Cavaleiro,  Governador   Civil de  Oliveira,  em  A  Ilustre  Casa   de  Ramires , do iluminado Eça de Queirós).
                      
Ditongo. É como se classifica a união de duas vogais que formam uma sílaba; pode ser crescente e decrescente. No ditongo decrescente há uma vogal que soa primeiro e uma, chamada semivogal, que soa depois, cujo som é atenuado, como, p. ex., em pai, boi, comprei ; como é perceptível, a vogal “i”, nestes casos, soa de forma muito branda, razão pela qual se classificada como semivogal. Já no ditongo crescente a semivogal, branda, soa primeiro e a vogal, à qual se dá ênfase na pronúncia, soa depois, como em diário e quando, onde a vogal “a” é claramente tônica e o “i” e o “u” (semivogais) têm um som acanhado. Quando, no encontro vocálico as vogais se prununciam em sílabas separadas, acontece o hiato, como em dieta  e hiato. Hoje estou gramatical. Mas, estas recordações das aulas de Português surgem a propósito de quê?
Explico. Pelas ondas de Hertz, o rádio cita um nome próprio, um nome feminino muito conhecido na Itália: Paola – correspondente à nossa Paula. Só que a cidadã, no caso, era “Paô-la”! Isso mesmo: Paô-la. 
Homessa! Onde foram arrumar essa “paô-la”, assim, ferozmente hiatizada e tão desconforme com a prosódia? Ah, não sabem! Pois eu sei. Quem ensinou os brasileiros a chamar as Paolas de Paô-las foi o galo. Não o Galo, a brava equipe da camisa branca e preta, que vive às turras esportivas com o igualmente aguerrido Cruzeiro Azul Celeste. Não. Foi um galo comum, ave galinácea, o prosaico macho da galinha, que canta nas alvoradas.
Pois é. Um galo cantou, algures, não se sabe onde. Quase sempre é assim: ouve-se o galo cantar, mas não se sabe onde. Alguém leu o nome Paola, que pode ser Paola Stefani, Paola Sforza, Paola da Rimini; ou uma católica Santa Paola, da Toscana, de Cartago, da Espanha, de Damasco, mesmo Santa Paola Frassinetti, fundadora (ver ilustração) da Congregação das Irmãs de Santa Dorotéria, não importa. Alguém leu esse nome e gostou. Gostou, mas não quis saber se essas senhoras, santas ou não, eram “Páolas” : imediatamente denominaram-nas “Paô-las”. Pronto! O trem disparou. Começou a chover paô-la pra todo lado, do Oiapoque ao Chuí. 
Disseram-me que a Corte de Windsor edita anualmente estatísticas especiais no Mad’s Train, muito respeitada publicação real, que no Brasil se chama Trem de Doido ; e a edição de 2.010  mostra que o Brasil é o maior celeiro de “paô-las” do mundo, informação chancelada pelo Guinness Book.      
Agora, vem cá. No Brasil, Washington não é Vazing-ton ; Marie não é Marí-eDa Vinci não é Davinssi nem Mary Stuart é Marí  Istuárte.  Por quê? Porque todos estão cansados de ouvir as pronúncias corretas desses nomes. Mas os que leram Paola não sabiam que Paola é nome italiano, como não sabiam que em italiano se diz páola (ditongo decrescente); leram “Paô-la” e “paô-la” ficou. Conheço Paô-las que viram onças quando alguém lhes diz que paô-la  não existe na língua italiana. E respondem, cheias de orgulho, que elas são e serão Paô-las.
            Mas, então, por que não foram registradas como Paulas (ditongo decrescente) em Português, mesmo? É no que dá essa mania de copiar nomes doutras terras sem procurar saber como se pronunciam esse nomes. Só falta (e não é muito difícil) que o autor das famosas Epístolas passe a ser São Paô-lo, já que em Italiano ele é Paolo.
Alguém dirá: Ah, mas em Portugal o Sporting, valoroso time de futebol, é Ish-portíngue! Bom, em Portugal, como no Brasil, acontecem coisas extraordinárias.   

É onde eu te falo...
          


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