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sábado, 24 de novembro de 2012

TODOS PARA O BREJO (NÃO SÓ A VACA)



  Pois Benedictus XVI, que também é Bento e igualmente dezesseis, de notório conservador, virou novidadeiro: decidiu apagar das cabeças católicas uma tradição que sempre lhes foi tão cara: despejou do Presépio hóspedes que, faz séculos, nele vinham passando as Festas de Natal. Dixit Pontifex, disse o Pontífice: -Presépio não tem bicho!        
Sua Santidade, com assistência do Espírito Santo, tem o dom de, pela Igreja, falar ex cathedra sobre “doutrina de fé ou costumes” (sic) -  outorga do Apóstolo Pedro, consolidada em mandamento constitucional promulgado pelo Concílio Vaticano I, em 1780. Aliás, falar “ex cathedra” pode se traduzir por “falar doutoralmente”; ou seja, em linguagem menos culta: o Papa falou, tá falado. De resto, é esse mesmo o espírito da coisa, tanto que as sentenças papais se erigem em dogmas, ou preceitos indiscutíveis. Justamente por isso é que a Igreja diz, e os católicos repetem: o Papa é infalível!
Pobres católicos! E agora? Como eles vão purgar a irregularidade dos seus presépios domésticos, onde acostumaram juntar espécimes bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos (com trema), até mesmo, num rasgo democracia zoológica, o galo que canta à meia-noite, a conclamar – muito a propósito – para a... missa do galo?
É... Sua Santidade arrumou um grande sarilho!
Quem vai, tirante um ou outro papista irredutível, armar o seu presépio sem os bichos litúrgicos, logo eles, portadores seculares de inefável encanto? E como explicar às crianças, os crentes mais gentis e verdadeiros, que neste ano o seu presépio só abrigará a Sagrada Família e (mesmo assim só depois de 6 de Janeiro) os Reis Magos? Não. Positivamente, é um desconchavo. Sem os bichos não há presépio que agüente (também com trema). Ora, já se viu desterrar do cenário natalino os figurantes mais pacíficos e amoráveis? Depois, há pontos a ponderar. Vejamos:
 1 - Se na taipa de Belém não há os bichos regimentais, também não há de ter a manjedoura, quando é fundamental: a) que ela tem a função original de acondicionar a forragem dos próprios e, assim, não havendo bichos não faz sentido ter alfafa; b) que justamente na manjedoura, sobre a alfafa macia, foi posto a dormir o Menino Jesus. A notória manjedoura, portanto, seja no seu propósito originário, seja na sua finalidade derivada, é um estorvo no Presépio Papal.
2 - Demais, se não há os bichos, o Menino Jesus vai se congelar na friagem invernal de Dezembro (naqueles Orientes faz frio no Natal). Então, quem vai bufar sobre o nenê para aquecê-lo? No entanto, conforme a jurisprudência popular, o Menino Jesus definhava, encarangado, quando os bichos se puseram a bufar sobre ele o seu hálito quente, o que o salvou da hipotermia fatal. Só que agora ele não vai ter esse conforto.
3 -  Proscritos os bichos, também não há de haver pastores no Presépio; estes, por serem desnecessários, até impertinentes, nada têm a fazer no local. Vai sobrar espaço na taipa.
É... Sua Santidade despovoou o Presépio!
Tudo isso sem contar que desautorizou um santo de grande prestígio e, consta, de vastos saberes, profanos e teologais. Também é de preceito que São Francisco de Assis, o poverello, foi quem, no Século XIII, armou (em argila) o primeiro presépio da História, em Greccio, no Lácio, e  nele o milagroso frade juntou bois e vacas, carneiros e cabritos, cabras, muares e cavalos. Aliás, fundado no magistério do Coronel-FAB Antônio Frederico Bastos, festejado sabedor das coisas antigas, tenho acatáveis razões para crer que São Francisco colocou no seu presépio também um camelo - de resto, personagem obrigatório nas cenas médio-orientais.                
É... Sua Santidade se encrencou com o Santo de Assis !
Pessoalmente, acho que a novidade papal vai para o atoleiro onde moram as tais leis brasileiras que “não pegaram”. Essa coisa de por os bichos no ostracismo não vai pegar. Como não pegou, ainda, a proibição dos acochos de alcova sem casamento e fora dele; nem, até hoje, a supressão da camisinha.
É... Sua Santidade se colou em cheque...
Inovar é bom, mas... de modus in rebus, diziam os romanos (adoro essa frase). Tradução, para os pouco afeitos ao Latim: mexer em time que está ganhando costuma dar revertério. 

É onde eu te falo...

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