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segunda-feira, 30 de julho de 2012

COISAS PRIMITIVAS


             O boi tem quatro estômagos, ouvi dizer. Prodígio? Não. Apenas necessidade de um sistema digestivo especial. Prodigiosas são as autoridades fiscais brasileiras que têm quatrocentos buchos. Pois é. Mais que as pessoas físicas, os empresários reclamam contra a carga tributária a que se sujeitam. Com razão uns e outros. A queixa procede. Políticas fiscais primitivas são próprias de governantes ineptos e administradores rudimentares, para quem governar é uma peça em dois atos: tributar e aumentar os tributos. Fazer o quê?
            As empresas brasileiras fazem o diabo no afã de abrandar a fome tributária nacional – sem êxito, porque o Parlamento, fraco e interesseiro, não quer desgostar o Executivo, que lhes abre as torneiras politiqueiras. Desiludidos, os empresários inventam saídas que lhes atenuem o desembolso – nem tão grande, afinal, visto que repassam ao consumidor cada extorsão que lhes faz o governo, como é notório.
            A mais nova idéia, que leio nos jornais, foi idealizada pelos vitivinicultores gaúchos: eles querem, via tributação forte, encarecer o vinho estrangeiro, na suposição de que isso fomentará o consumo dos vinhos nacionais. Solução que, é quase certo, despertará os sorrisos das autoridades fiscais. É o mesmo que perguntar à saúva se ela quer brotinhos suculentos.  
             No entanto, tenho cá minhas dúvidas de que a proposição gaúcha renderá os trunfos que pretende. O encarecimento do produto estrangeiro não vai forçar, necessariamente, a opção pelo vinho brasileiro; até porque, na proposta dos vinhateiros nacionais, estariam fora do arrocho governamental os vinhos chilenos, paraguaios e argentinos - que são, justamente, os estrangeiros mais vendidos aqui, donde a possibilidade de não ser assim tão saborosa a fatia originada do encarecimento dos vinhos forâneos.
            A medida em questão pode até gerar algum ganho, mas dificilmente ele será expressivo. Barreiras fiscais são faca de dois gumes, todos sabem. Melhor fariam os produtores gaúchos se batessem o pé diante de Suas Majestades, os arrecadadores de impostos. E tratassem de baratear os seus vinhos no mercado interno, pelo menos até que as bocas brasileiras percebessem como são excelentes os vinhos da Serra Gaúcha.
            Reconheço que isso é tarefa de alta carregação: no seu primitivismo, os governantes brasileiros qualificam o vinho (qualquer um) como “artigo de luxo”, ao invés de considerá-lo item normal da dieta – como nos países mais evoluídos mentalmente.
            Por mais, adegas e restaurantes estrelados não deixariam de vender vinhos portugueses, espanhóis, italianos, californianos, da Nova Zelândia, da África do Sul, da Austrália, até do Butão
(não conheço quem já tenha tomado vinho desse lugar, mas por via das dúvidas...). Enófilos abonados e babacas faroleiros não se privariam do vinho estrangeiro por trinta mirréis a mais ou a menos. 
            O grande perigo é que o tiro saia pela culatra: não se pode confiar nas autoridades fiscais brasileiras; se a importação cair um pouco, elas vão, isso sim, espoliar mais a vitivinicultura nacional. Uma coisa é certa: os palácios do poder não hospedam muitos bebedores de vinho, razão da má vontade governamental em incentivar-lhe o consumo. Além disso, há grupos que já divulgam via Internet, até com foros ditos científicos, que Cristo não bebia vinho, mas suco de uva. Só não explicam se de embalagem Tetra Pak.
     
              É onde eu te falo...       

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