Páginas

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ah, se o relógio voltasse....


Rua da Bahia. Defronte o antigo Clube Belo Horizonte, esquina com Rua Guajajaras.

Ah, quanta saudade! E com justa razão, aliás. Havia na cidade restaurante que, ao menos, se igualasse ao Albamar? Pois não havia. Aquilo era um paraíso gastronômico, ao tempo em que a gastronomia era uma coisa mais séria. Isso, pelo geral; há exceções, claro.

Existisse ainda hoje, uns dois, no máximo, chegariam à sua estatura de cozinha celeste. Nestes tempos de hoje os pratos, com seus enfeites de mil cores lembram telas de Miró; e o que chamaríamos de “arte final” é uma composição ao estilo rococó superlativo-espichado, onde os enfeites gritam alardes num equilíbrio improvável.

No Albamar, não. Antônio Faleiro era um restaurater de formosas pretensões. Ali, nada de ficções, nenhum artifício mágico. Nem o Chefe não ligava para essas prestidigitações ornamentais. Os pratos tinham cores, sim, e belas; mas não eram como as fantasias da Marquês de Sapucaí, que concorrem com o arco-íris. Depois, o que vinha nos pratos - sempre apresentados  sob um cloche elegante e servidos com sobra de classe - eram, realmente, complementos naturais da pièce de résistence. Nada de riscos, rendinhas e mosaicos desenhados com molhos reduzidos à exaustão, cujo sabor tanto pode lembrar jabuticaba quanto chocolate amargo, ou borra de café. À época não se falava em decoração, mas em guarnição. Acho que dá para entender, né?

Enfim, os tempos mudam: “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”, cantam por aí. Mas, sem nenhum saudosismo enfermiço, os aromas e os sabores do Albamar, nem sempre os vejo repetidos. É pena.

Depois, os garçons eram preciosos. José Albino, Joãozinho, José Pedro... que profissionais! Como sabiam indicar o melhor peixe, sugerir o polvo mais saboroso, as lulas, os filés, as aves, os cremes... Ah, sabiam até indicar o vinho corretamente adequado, quase sempre um verde, porque na adega reinavam, sem contestação e enxovalho, os maravilhosos verdinhos de Portugal - com bolhas e agulhas, hoje igualmente perdidas, espero que não para sempre.

Pois é. Quem teve o privilégio de saborear a garoupa ou o namorado, o verdadeiro filé à Rossini (com fígado de ganso), o polvo ao vinagrete ou só com batatinhas e arroz de frutas secas, as lulas recheadas ou apenas grelhadas no braseiro, a..., o... Ora, o que mais dizer? Daquela cozinha só saíam perfeições. O segredo? Não sei; acho que havia muitos segredos. Mas um deles foi revelado a todo habitué: ausência de fricotes, zelo elevado às alturas e toneladas de savoir faire. Por sorte existem as exceções, os pratos dos Chefes que não entram na “mesmice novidadeira”. Aplausos. 

Hoje caprichei no Francês; homenagem ao saudoso Antônio Faleiro. E o que esperavam num texto retroativo à velha comida dos Deuses?

É onde eu te falo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caso queira, faça contato direto por email: rubens2instancia@hotmail.com