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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O RIO SÃO FRANCISCO... QUE COISA, HEIN?



                Amanheci ouvindo Sá & Guarabira pelo rádio-relógio.  Deu saudade desses dois, tão sumidos, que perderam espaço para essas duplas infernais que assolam as ondas de Hertz. São as tais duplas que se vestem à texana e gemem merdinhas musicais enquanto pensam nos milhões com que os babacas lhes aumentam os saldos bancários, com os quais adquirem fazendas cinematográficas.  Verdadeira maldição.
O Brasil, coitado, vive a “maldição da latrina” – praga que lhe rogaram as deidades subterrâneas: atolar-se em merda. Essas deidades fizeram um pacto com a escória e por efeito dele o que estava em baixo foi pra cima. Maçons e outros místicos juram que essa é uma lei universal e cíclica – crença que até certo ponto conforta, pois  traduz a possibilidade de os boçais regressarem  à Geena, um dia.  
                Mas Sá & Guarabira cantavam bonito: o homem chega, já desfaz a natureza, tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar. O São Francisco, lá pra cima da Bahia, diz que dia menos dia vai subir bem devagar; e passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o sertão ia alagar...
Ô, Diabo! Essa canção, mesmo antiga, evoca coisas de agora! O homem diz que tudo vai mudar... O São Francisco mudando de lugar... O beato dizendo que o sertão ia alagar... Onde é que eu já vi isso? Sei lá. Trem doido essa memória da gente, né? Bom, deixa pra lá. É levantar, abrir o chuveiro, fazer a barba; e, claro, tomar café, ler o jornal do dia.
                Putz ! É isso ! Inquietante coincidência !O jornal tem páginas dedicadas ao que se pode chamar de “a paixão e morte do Rio São Francisco”. É isso. O rio está morrendo, vítimas dos escroques e dos boçais. Os primeiros  vêm, há anos, jogando nas outrora formosas águas toda sorte de venenos; os segundos fazem delas o sorvedouro das suas imundícies.
                União, Estados e Municípios se fingem de mortos ou, como pássaros na muda, ficam  mudos. Por quê? Ora, por quê... Porque os escroques venenosos são industriais milionários que entopem as cloacas dos governantes com muito dinheiro, e neste país de trastes governar é arrecadar. Quem quer incomodar as suas galinha dos ovos de ouro? E os boçais, magrelos desnutridos e fedorentos, não têm cultura nem discernimento para outra coisa que não seja emporcalhar o rio. Enquanto isso o rio estrebucha. E pensar que disseram: O sertão vai alagar, tudo vai mudar ! O que era deserto vai ser um oásis ! Faça-se a água !!!
Uma ova. Analfabetos funcionais rascunharam um projeto de transposição das águas, coisa porca (disseram especialistas), sem técnica e desafiando sequelas ambientais – pior, sem ao menos saber da  possibilidade delas, já que são ignorantes. E começaram a retalhar porcamente  margens e entornos, fizeram alardes de ensurdecer em propaganda na mídia – sempre ávida de patrocínios oficiais, dos quais ela, na realidade, vive.
Mais que isso, entregaram as obras àqueles que “andam pelo braço dos canalhas  e bebem na taverna dos cretinos” (*), empreiteiros safados, especialistas não em artes de engenharia, mas em... claro, safadezas. As obras, ou os arremedos de obras estão lá, no sertão bravo, onde vivem os boçais – aqueles mamulengos primitivos que acreditam em mágica e agradecem a “assistência” governamental, crentes que a vida se resume nisso.
                Sá e Guarabira diziam: dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão... Quá! Antes do mar, o São Francisco vai virar deserto.
               
É onde eu te falo...

(*) Trechos do poema “Dia das Mães”, de Giuseppe Ghiaroni

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