Depois dos
escândalos do Banco Ambrosiano, depois do envolvimento do Vaticano com a Máfia siciliana, depois das trapaças do
Cardeal Marcinkus e comparsas - do que resultaram crimes em série, fiscais e
de sangUE - a imprensa mundial está na cola da Santa Sé: “SEXO NO VATICANO” .
- Sant’smo
Sacramento !!! - vão exclamar as
Domarias do mundo, entre sinais-da-cruz e baldes de água benta. Como é notório,
“domaria” é espécime encontradiço em qualquer quadrante e em todas as
latitudes. Mas elas, é claro, não vão acreditar no que diz a imprensa. Afinal,
pensam, padre é metade santo e metade deus, de modo que essa coisa de
religiosos “fazendo bobiça” é calúnia de Satanás. No entanto, diz o porta-voz papal,
Pe. Federico Lombardi: “Não esperem
comentários, negações ou afirmações sobre esse assunto” – postura que, pela sua
ambiguidade, fala por si mesma...
Os cardeais
Herranz, Tonko e Di Giorgi entregaram a Benedictus XVI um dossiê cabeludo,
informando-o de “influência imprópria de natureza mundana” dentro da Igreja. O
que seja essa “influência”, a Santa Sé não explica objetivamente, mas adianta
que “tudo gira em torno do sexto e do sétimo mandamento “.
Ora, quanto
ao Sétimo, o Vaticano adquiriu no curso dos séculos o status de PhD no trato com fraudes, roubos, maroscas
fiscais e assassinatos, coisa antiga e aceita na história do Papado. Nos fins
do Século XX, imprensa, comunidades diplomáticos
e organismos de segurança, inclusive CIA, foram melifluamente convencidas a não importunar Sua Santidade
com denúncias sobre comportamentos “impróprios” de ordem econômico-financeira.
Nesse ponto a Santa Sé tira de letra qualquer denúncia de transgressão do
Sétimo Mandamento. Mas a alusão ao Sexto
causa frissons de malícia. Quando se trata de pecado contra a castidade a coisa
exacerba - inda mais quando se noticia a existência,
dentro do Reino de São Pedro, de um nebuloso sistema prestador de “serviços
sexuais”, agora lindamente chamado de lobby
gay...
Ah, os
pecados da carne... Nesse tópico os pudicos fingem horror, mas é certo
que 99,5 % da população mundial, secretamente ou não, sonha com nos calores da
fornicação. Por isso é saborosa a notícia de que o Vaticano não é refratário
às atividades de alcova, quando o pesado véu da noite lhe encobre os ardores. Às
ocultas, mãos se inquietam, olhos
brilham de tesão, e línguas umedecem lábios ressecados no afã da refrega orgásmica.
“Comportamentos
impróprios de natureza mundana” são eufemismos eclesiais para atenuar as coisas. Claro, a voz da Santa Sé não
poderia descer à crueza do jargão das ruas; se isso já não fica bem nos meios diplomáticos
- falsamente sérios - menos ainda na santificada
dicção vaticana. Mas não há eufemismo que apague a imediata lembrança dos
acochos de cama quando se fala no Sexto Mandamento – o da sacanagem.
Consta que o
Santo Padre vai publicar o dossiê do lobby
gay (nome interessante). Pode ser, mas
é improvável que o
formoso dossiê seja exposto sem cortes e ajustes. É de supor que desse documento
sejam expurgadas coisas como felatio in
ore (**) e congêres. De todo modo, o
mundo aguarda ansiosamente a comprovação daquilo que, aos murmúrios, sempre
andou de boca em boca. Em Roma há pessoas que durante o dia trabalham nas fraudes
contábeis do Banco do Vaticano; à noite acendem velas santificadas e rezam as
Completas (*) em penumbra incensada, ao som de gregorianos compassos; depois do
que se desviam em silencio obsequioso para os desvãos escuros de São Pedro, onde,
aos bruxuleios de velas pagãs... soltam a franga. Pobre Bento...
É onde eu te falo...
(*) O último ofício divino do
dia, rezado antes da madrugada.
(**) Eufemismo comportado para sexo oral,
vulgarmente conhecido por boquete.
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