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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A VOLTA DO "SABE COM QUEM TÁ FALANDO?"



           Há anos li uma história. Era madrugada, em Londres. Um carro – talvez um Aston Martin de muitos cilindros – contorna a praça em alta velocidade e recebe do policial a ordem de parar. O motorista freia e é abordado pelo policial que, só então, verifica se tratar de Sua Alteza Real Charles de Windsor. Impassível, mas cerimonioso, cumprimenta Your Highness, o Príncipe de Gales, a quem entrega a intimação para comparecer à  presença do juiz no dia seguinte. Charles se apresenta ao tribunal, reconhece a sua falta, é censurado, admoestado, e deixa o prédio com a nota da multa que lhe foi imposta por desrespeito à lei de trânsito. Igualzinho no Brasil.
            Essa história me veio quando li no jornal que os padres não devem se sujeitar às severidades da Lei Seca. Isso mesmo. Basta-lhe dar uma carteirada nos “home” e dizer: “- Qualé, ô meu? Sou padre e acabo de celebrar missa, onde transformo vinho em sangue, tá sabendo, jacaré? E mais uma vez o Código Penal vai pro brejo.      
            A notícia diz que a CNBB rejeitou com certa aspereza a sugestão de, nas missas, o celebrante usar suco de uva em vez de vinho. Até que Sua Santidade Benedictus XVI autorize expressamente o emprego do suco, a transubstanciação continuará a ser feita com vinho mesmo. Assim, como vinho tem álcool e os padres se vestem como qualquer do povo, a eles, se colhidos numa blitz, basta alegar a sua condição de padre para se eximir do bafômetro. E mesmo que o sopre - hipótese bem remota - a eventual detecção de álcool não tipifica o delito que a chamada “tolerância zero” pretende combater. Trem doido, isso. Mas prosaico, a bem dizer.
            Prosaico, mas que conduz a grave questão de ordem metafísica. O vinho consagrado se transmuda em sangue e, pois, razão não há para que os padres se arreceiem de soprar o bafômetro, visto que só tem álcool o sangue de quem bebeu álcool - o que não é, obviamente, o caso do padre que fez a transubstanciação e bebeu o elemento resultante -sangue, não vinho. O conselho que a CNBB dá aos padres, de dar carteirada e se recusar ao bafômetro sob a alegação de que é padre, não faz sentido. Ou será que faz?

            É onde eu te falo...

PS 1 - Acho que a vírgula antes de “não dirija” é perfeitamente dispensável.
               PS 2  - Este texto foi escrito pouco antes da renúncia de Benedictus XVI, a julgar pelos noticiários.

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