Atanásios Evangélion (os acentos são só para orientar
a pronúncia), Sub- patriarca aposentado da Igreja Ortodoxa, deixou o ministério
ativo há décadas, desde que, em visita a uma fazenda no Sul de Minas, apanhou
mijacão no pé esquerdo. Assim e
como esse mal é notoriamente insidioso,
ele vive debruçado sobre a escrivaninha onde cataloga os fatos estranhos que a
Imprensa divulga, dos quais lê o sentido oculto. E remete as suas análises ao
serviço de inteligência do Papa (não do Vaticano, mas do Pontífice,
pessoalmente). É turco de nascimento,
mas de estirpe grega; come um carneiro inteiro
e quilos de figo seco numa sentada; bebe azeite aos copos e vinho no gargalo; é enólogo diplomado
e mora num desvalido mosteiro grego, cuja localização não tenho licença para
divulgar. Conta 97 anos e parece ter 150.
Quando viajei a Kalamata para aprofundar meu Grego
Clássico, foi com ele que estudei a obra
lírica de Safo, mulher extraordinária que compôs belos cânticos lá por
seiscentos e poucos antes de Cristo. Ficamos muito chegados. Quando lhe
recomendei banhar o pé doente com
solução de creolina e malva, e isso lhe aliviou as dores, ficamos amigos. Com
as afinidades políticas, acabamos confidentes. Santo homem, o Sub-Patriarca
Atanásios. E esperto como mil serpentes e duas mil raposas.
Nesses tempos midiáticos
de Conclave, Atanásios trabalhou como um
doido nas suas análises – que, obviamente, reteve até a tocante emanação
da fumacinha branca. Francisco I há de ter perdido noites de sono diante das
conclusões do colega ortodoxo. Dada a nossa
muita familiaridade, o Sub-Patriarca me revelou uma delas – mais tenebrosa do que a guerra nuclear anunciada
por Pyongyang. E, por notável coincidência, respeitante à Coréia do Norte. Também
sei que o Sub-Patriarca foi chamado ao
Vaticano para conferenciar secretamente com Sua Santidade. Como resultado dessa
reunião, justamente, o ditador norte-coreano passou a ser chamado pela mídia de Kim Jong-un.
Sim, porque antes ele se assinava Kim Jong-um – um com eme. A razão disso? Só um sujeito
atilado como Atanásios Evangélion teria percebido o perigo. Explico. O tal
ditador é um indivíduo com idade mental de seis cinco e, como tal, consumidor
compulsivo dos filmes de Rambo. Ora, esse retardado sabe que depois do filme
piloto vieram Rambo-dois, Rambo-três, quatro, dezenove, quarenta... e deve
andar aí pelo Rambo-cento e vinte e sete. Perceberam?
Não? Bom, explico mais. Numa ladainha hereditária, a
raça Kim Jong se eterniza indefinidamente no poder; os séculos vão passar e
tome Kim Jong-dois, Kim Jong-três, quatro, dezenove, quarenta, cento e vinte
sete... até a consumação dos tempos. Comunista não é de largar o osso com facilidade;
inda mais quando é muito insano... É, como o mijacão, mal de duvidosa cura. Mas o melhor é que o desvairado norte-coreano
gostou de ser un, com ene, e adotou essa numeração, afastando
o perigo dos ordinais familiares; pode até ser que o un desista de apadrinhar o dois. A mídia internacional, é claro,
foi devidamente cooptada pela influência do Santo Padre. Em boa hora. Se um um já é um flagelo, já pensaram nos
subsequentes? Melhor que seja apenas um un.
Graças ao meu fraterno amigo e Sub-Patriarca aposentado.
A sorte é que
o Kim Jong-un vai morrer um dia. Para o seu epitáfio, Atánásios sugeriu um verso
de... Safo, exatamente: “ Morto jazerás
e não deixarás memória nem saudade ; invisível, errarás na casa de Hades entre
os escuros mortos, depois de teres voado daqui ”.
É onde eu te falo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, faça contato direto por email: rubens2instancia@hotmail.com