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quinta-feira, 4 de abril de 2013

O MIJACÃO NORTE-COREANO



       

 











         Atanásios Evangélion (os acentos são só para orientar a pronúncia), Sub- patriarca aposentado da Igreja Ortodoxa, deixou o ministério ativo há décadas, desde que, em visita a uma fazenda no Sul de Minas, apanhou mijacão no pé esquerdo.  Assim e como  esse mal é notoriamente insidioso, ele vive debruçado sobre a escrivaninha onde cataloga os fatos estranhos que a Imprensa divulga, dos quais lê o sentido oculto. E remete as suas análises ao serviço de inteligência do Papa (não do Vaticano, mas do Pontífice, pessoalmente).  É turco de nascimento, mas de estirpe grega;  come um carneiro inteiro e quilos de figo seco numa sentada; bebe azeite aos copos e vinho no gargalo; é enólogo diplomado e mora num desvalido mosteiro grego, cuja localização não tenho licença para divulgar. Conta 97 anos e parece ter 150.
                Quando viajei a Kalamata para aprofundar meu Grego Clássico, foi com ele que estudei  a obra lírica de Safo, mulher extraordinária que compôs belos cânticos lá por seiscentos e poucos antes de Cristo. Ficamos muito chegados. Quando lhe recomendei  banhar o pé doente com solução de creolina e malva, e isso lhe aliviou as dores, ficamos amigos. Com as afinidades políticas, acabamos confidentes. Santo homem, o Sub-Patriarca Atanásios. E esperto como mil serpentes e duas mil raposas.
                Nesses tempos  midiáticos de Conclave, Atanásios  trabalhou como um doido nas suas análises   que, obviamente, reteve até a tocante emanação da fumacinha branca. Francisco I há de ter perdido noites de sono diante das conclusões do colega ortodoxo.  Dada a nossa muita familiaridade, o Sub-Patriarca me revelou uma delas  – mais tenebrosa do que a guerra nuclear anunciada por Pyongyang. E, por notável coincidência, respeitante à Coréia do Norte. Também sei  que o Sub-Patriarca foi chamado ao Vaticano para conferenciar secretamente com Sua Santidade. Como resultado dessa reunião, justamente, o ditador norte-coreano  passou a ser chamado pela mídia de Kim Jong-un.
                Sim, porque antes ele se assinava Kim Jong-um  – um com eme. A razão disso? Só um sujeito atilado como Atanásios Evangélion teria percebido o perigo. Explico. O tal ditador é um indivíduo com idade mental de seis cinco e, como tal, consumidor compulsivo dos filmes de Rambo. Ora, esse retardado sabe que depois do filme piloto vieram Rambo-dois, Rambo-três, quatro, dezenove, quarenta... e deve andar aí pelo Rambo-cento e vinte e sete. Perceberam?
                Não? Bom, explico mais. Numa ladainha hereditária, a raça Kim Jong se eterniza indefinidamente no poder; os séculos vão passar e tome Kim Jong-dois, Kim Jong-três, quatro, dezenove, quarenta, cento e vinte sete... até a consumação dos tempos. Comunista não é de largar o osso com facilidade; inda mais quando é muito insano... É, como o mijacão, mal de duvidosa cura. Mas o melhor é que o desvairado norte-coreano gostou de ser un, com ene, e adotou essa numeração, afastando o perigo dos ordinais familiares; pode até ser que o un desista de apadrinhar o dois. A mídia internacional, é claro, foi devidamente cooptada pela influência do Santo Padre. Em boa hora. Se um um já é um flagelo, já pensaram nos subsequentes? Melhor que seja apenas um un. Graças ao meu fraterno amigo e Sub-Patriarca aposentado.
                 A sorte é que o Kim Jong-un vai morrer um dia. Para o seu epitáfio, Atánásios sugeriu um verso de... Safo, exatamente:  Morto jazerás e não deixarás memória nem saudade ;  invisível, errarás na casa de Hades entre os escuros mortos, depois de teres voado daqui  ”.  

                É onde eu te falo...             

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