Recebi um
vídeo com imagens interessantes; e falas interessantíssimas. Que provam, aliás, o quanto as divindades estão
evoluídas nestes tempos cibernéticos. Não era pra menos. Os deuses, que tudo criaram, hão de
ter criado chips e computadores de alto nível, inclusive os ditos de última geração – os
quais já criaram mas ainda não “disponibilizaram no mercado” (ô expressão fdp !). De toda sorte, dá pra perceber que eles,
os deuses, já não falam apenas “nos cantos do piaga”, como ensinava o poeta
Gonçalves Dias; falam pelas ondas de Hertz, no que vinham treinando desde os
tempos da falecida Intelsat.
É notável como as épocas vão deixando nos seus rastros
sinais para os quais não se atenta e ensinamentos tantas vezes inaproveitados.
Vejamos um exemplo singelo, dos tempos bíblicos. É de preceito que Moisés grimpou
as fragas de Sinai para participar das sessões legislativas das quais resultaram os chamados, com muita propriedade,
Cinco Livros de Moisés, ou Pentateuco
. Nesses livros, é notório,
se compilam os decretos divinos dirigidos aos judeus. Quem os lê entende logo
como os deuses, outrora, tinham preocupações... digamos, mais antrópicas, mesmo
do ponto de vista da subsistência.
Com efeito, foram prescritas aos judeus até mesmo detalhadas
regras culinárias, do garde manger (*) à
ultimação das iguarias. Um capítulo importante no ordo (**) litúrgico dos
hebreus, principalmente porque – por determinação dela própria – a
divindade hebraica não era convenientemente adorada sem que previamente se colocassem
sobre as brasas do propiciatório sagrado pedaços de bichos, ou bichos inteiros,
para grelhar. As fumaças que se desprendiam dos assados subiam aos Céus com seus “cheiros suavíssimos, agradáveis ao
Senhor”. Então a divindade ficava contente e ajudava os seus adoradores. Aliás,
muitas das prescrições divinas ditadas em Sinai vararam os milênios e são até
hoje observadas nos rituais da famosa comida kasher (em hebraico) ou
kosher (em yiddish).
Mas os tempos mudam. Hoje as divindades não são tão
amenas. Os deuses estão informatizados; usam tecnologias avançadas para se entenderem
com as gentes do Século XXI. Só por amor à modernidade? De modo nenhum. É que
eles já não se contentam com meros cheiros suavíssimos e com um dízimo
aleatório, ou em atraso. Ora, quando Abrahão, voluntariamente, deu um “algum” a Melquisedec (Gêneses14:17-20), não sabia que
esse... agrado... acabaria assumindo um viés tributário. Mas virou, depois que
Moisés trouxe do morro essa disposição,
inscrita na Lei: pagar o dízimo. No entanto, a exação não era em dinheiro, mas em
víveres, gados, colheitas, essas coisas (Levítico 27:30-33). Curiosamente, os
levitas (encarregados do ofício religioso) não pagavam dízimas; recebiam-nas !!!
Bão, né?
Bom, o tempo correu e as coisas foram adquirindo
outros contornos: o dízimo passou a ser de pagame obrigatório. E em dinheiro;
ali, de contado, com alíquota fixada em 10%. E no torvelinho da vida de hoje, quando
os tempos andam bicudos e há tecnologia disponível, as divindades não querem
mais que o tributo seja recolhido nos templos. Nada disso. Agora a ordem é
recolher através do caixa eletrônico, por meio do cartão bancário. É a
recomendação do tal pastor, cujo nome não sei, nem a que confissão pertence, mas
cuja cara vejo sempre, quando fico naquela de ir mudando de canal pelo controle
remoto. Dízimo no cartão! Sim, senhor, que método formoso... Certamente, é uma das razões – e da
boa – pelas quais as divindades clareiam as cabeças
humanas no avanço da ciência. Bem diria aquele faquir de largos saberes, Rahjwapapuh, o conspícuo:
(*)
Expressão francesa, literalmente, “guardião
da comida”, significando o lugar bem ventilado, fresco e limpo
onde são inicialmente
tratados e beneficiados os ingredientes ainda crus
(**)
Em Latim, regra, disposição, sequência,
ordem, encadeamento
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