“Bem, cada um se
entende a seu modo” (André
Cavaleiro, Governador Civil de Oliveira,
em A Ilustre
Casa de Ramires , do iluminado Eça de Queirós).
Ditongo. É como se classifica a
união de duas vogais que formam uma sílaba; pode ser crescente e decrescente.
No ditongo decrescente há uma vogal que soa primeiro e uma, chamada semivogal,
que soa depois, cujo som é atenuado, como, p. ex., em pai, boi, comprei ; como é perceptível, a vogal “i”, nestes casos, soa de forma
muito branda, razão pela qual se classificada como semivogal. Já no ditongo crescente a semivogal, branda, soa
primeiro e a vogal, à qual se dá ênfase na pronúncia, soa depois, como em diário e quando,
onde a vogal “a” é claramente tônica e o “i” e o “u” (semivogais) têm um som
acanhado. Quando, no encontro vocálico as vogais se prununciam em sílabas separadas, acontece o hiato, como em dieta e hiato. Hoje estou gramatical. Mas, estas recordações das aulas de Português
surgem a propósito de quê?
Explico. Pelas ondas de Hertz, o rádio
cita um nome próprio, um nome feminino muito conhecido na
Itália: Paola – correspondente à nossa Paula. Só que a cidadã, no caso, era
“Paô-la”! Isso mesmo: Paô-la.
Homessa! Onde foram
arrumar essa “paô-la”, assim, ferozmente hiatizada e tão desconforme com a prosódia? Ah, não
sabem! Pois eu sei. Quem ensinou os brasileiros a chamar as Paolas de Paô-las
foi o galo. Não o Galo, a brava equipe da camisa branca e preta, que vive às
turras esportivas com o igualmente aguerrido Cruzeiro Azul Celeste. Não. Foi um
galo comum, ave galinácea, o prosaico macho da galinha, que canta nas
alvoradas.
Pois é. Um galo cantou, algures, não
se sabe onde. Quase sempre é assim: ouve-se o galo cantar, mas não se sabe
onde. Alguém leu o nome Paola, que pode ser Paola Stefani, Paola Sforza, Paola
da Rimini; ou uma católica Santa Paola, da Toscana, de Cartago, da Espanha, de
Damasco, mesmo Santa Paola Frassinetti, fundadora (ver ilustração) da Congregação das Irmãs de
Santa Dorotéria, não importa. Alguém leu esse nome e gostou. Gostou, mas não
quis saber se essas senhoras, santas ou não, eram “Páolas” : imediatamente
denominaram-nas “Paô-las”. Pronto! O trem disparou. Começou a chover paô-la pra todo lado, do Oiapoque ao
Chuí.
Disseram-me que a Corte de Windsor edita anualmente estatísticas
especiais no Mad’s Train, muito
respeitada publicação real, que no Brasil se chama Trem de Doido ; e a edição de 2.010
mostra que o Brasil é o maior celeiro de “paô-las” do mundo, informação
chancelada pelo Guinness Book.
Agora, vem cá. No Brasil, Washington
não é Vazing-ton ; Marie não é Marí-e ; Da Vinci não é Davinssi nem Mary Stuart é
Marí Istuárte. Por quê? Porque
todos estão cansados de ouvir as pronúncias corretas desses nomes. Mas os que
leram Paola não sabiam que Paola é nome italiano, como não sabiam que em
italiano se diz páola (ditongo decrescente);
leram “Paô-la” e “paô-la” ficou. Conheço Paô-las que viram onças quando alguém
lhes diz que paô-la não existe na
língua italiana. E respondem, cheias de orgulho, que elas são e serão Paô-las.
Mas, então, por que não foram registradas como Paulas
(ditongo decrescente) em Português, mesmo? É no que dá essa mania de copiar
nomes doutras terras sem procurar saber como se pronunciam esse nomes. Só falta
(e não é muito difícil) que o autor das famosas Epístolas passe a ser São Paô-lo,
já que em Italiano ele é Paolo.
Alguém dirá: Ah, mas em Portugal
o Sporting, valoroso time de futebol, é Ish-portíngue! Bom, em Portugal, como
no Brasil, acontecem coisas extraordinárias.
É onde eu te falo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, faça contato direto por email: rubens2instancia@hotmail.com