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quarta-feira, 22 de junho de 2011

Um Gamay a bordo do Exocet, com direito a “Paêja”


Impressiona a coragem de certos jornalistas que não têm  receio algum de escrever e falar incorretamente em língua estrangeira e às vezes na própria.

Os exemplos são muitos. Por exemplo: habitat, que em latim se pronuncia “ábtat”, virou “abitá”, porque a mídia falada assim decidiu. Como na imprensa escrita se decidiu que restaurateur, é “restauranter”, o somellier se chama “samelier”, a uva chardonnay (“chardoné”) foi rebatizada como “chardonê! Um vinho “chardonê” deve ser horroroso. A uva gamay (gamé) é “gamêi”. Dá para gamar num vinho com esse nome?     

E a tal “paêja”? Tá certo, os argentinos, por exemplo, pronunciam o dígrafo “ll” como o nosso som de “j” e então a paella, para eles, pode ser paêja. Que seja. Mas um corrente de enófilos brasileiros pronuncia “paêja” e bebem “amontilha’o”, nunca “amontijado”, com “j”... Não é de rachar? 

No começo da guerra do Iraque, entrou em cena um foguete francês chamado exocet (“ekzocê”); pois um locutor da televisão, muito arrumadinho e cheio de tiques, lascou no Jornal do horário nobre um “eks-ôu-cet” mais daninho que o próprio foguete gaulês. O vexame foi tamanho que o locutor saiu do vídeo; nunca mais o vi. Outro lançou via Hertz que o Exército alemão, a Wermacht (vermascht) atendia por “u-er-métx”.

E por aí vai. Numa situação de emergência legal pode-se requerer (pedir) em juízo uma “decisão liminar”. Pois muitas vezes se ouve no rádio que o Dr. Fulano “entrou com uma liminar”. Uma ova!  Só um advogado doido “entra com uma liminar”; os normais “entram com um requerimento de ordem liminar”.

Nos desvairados escândalos nacionais, um meliante é pego em flagrante com a mão na botija. Se o Promotor o denuncia e lhe move a ação penal, a informação dos jornais é a seguinte: “Fulano é denunciado pelo Ministério Público pelo suposto crime de roubar dinheiro público.” Outra ova! O malandro foi preso em flagrante delito! Só um Promotor aloprado oferece denúncia por achar que o Fulano roubou; denuncia-o porque tem base objetiva para acusar o Fulano de roubo, já que “supor” significa “achar, ter um palpite”. E se um Promotor alucinado denunciar o Fulano dizendo ao Juiz que “tem um palpite de que o Fulano roubou”, o Juiz, se não for outro maluco, vai mandá-lo estudar mais.

Ora, conhecer línguas estrangeiras e Direito não é dever de qualquer jornalista. Mas é obrigação dele procurar se informar antes de falar e escrever besteira. Se não o faz e joga no mundo um monte de bobagens, é um jornalista nanico e um enorme arrogante: acha que já sabe tudo e não precisa de se informar antes de... informar.

Mas tudo isso é tolerável com uma boa dose de humor. O que esculhamba é um ministro  que se diz da Educação (?) apregoar aos quatro ventos que falar e escrever  “nóis fais café” está ótimo, porque isso ajuda na socialização (!) da Língua Portuguesa. Esse não é só arrogante; é doente.  

É onde eu te falo...

Um comentário:

  1. Rubens, antes de tudo, devo confessar que sua observação é de total pertinência, mas aviso:há muitos mais aloprados, que possamos sonhar em nossa vã filosofia.
    Paella vivo tendo que corrigir.
    Sameliê, Sumeliêr, chardonê e que tais, é mais comum do que entrar com uma liminar.
    Bravo!
    Abraços de luz
    Álvaro Cézar Galvão

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