Impressiona a coragem de certos jornalistas que não têm receio algum de
escrever e falar incorretamente em língua estrangeira e às vezes na própria.
Os exemplos são muitos. Por exemplo: habitat, que em latim
se pronuncia “ábtat”, virou “abitá”, porque a mídia falada assim decidiu. Como
na imprensa escrita se decidiu que restaurateur, é “restauranter”, o somellier
se chama “samelier”, a uva chardonnay (“chardoné”) foi rebatizada como
“chardonê! Um vinho “chardonê” deve ser horroroso. A uva gamay (gamé) é “gamêi”.
Dá para gamar num vinho com esse nome?
E a tal “paêja”? Tá certo, os argentinos, por exemplo, pronunciam o dígrafo
“ll” como o nosso som de “j” e então a paella, para eles, pode ser paêja. Que
seja. Mas um corrente de enófilos brasileiros pronuncia “paêja” e bebem
“amontilha’o”, nunca “amontijado”, com “j”... Não é de rachar?
No começo da guerra do Iraque, entrou em cena um foguete
francês chamado exocet (“ekzocê”); pois um locutor da televisão, muito
arrumadinho e cheio de tiques, lascou no Jornal do horário nobre um
“eks-ôu-cet” mais daninho que o próprio foguete gaulês. O vexame foi tamanho
que o locutor saiu do vídeo; nunca mais o vi. Outro lançou via Hertz que o
Exército alemão, a Wermacht (vermascht) atendia por “u-er-métx”.
E por aí vai. Numa situação de emergência legal pode-se requerer (pedir) em
juízo uma “decisão liminar”. Pois muitas vezes se ouve no rádio que o Dr.
Fulano “entrou com uma liminar”. Uma ova! Só um advogado doido “entra com
uma liminar”; os normais “entram com um requerimento de ordem liminar”.
Nos desvairados escândalos nacionais, um meliante é pego em flagrante com a mão
na botija. Se o Promotor o denuncia e lhe move a ação penal, a informação dos
jornais é a seguinte: “Fulano é denunciado pelo Ministério Público pelo suposto
crime de roubar dinheiro público.” Outra ova! O malandro foi preso em flagrante
delito! Só um Promotor aloprado oferece denúncia por achar que o Fulano roubou;
denuncia-o porque tem base objetiva para acusar o Fulano de roubo, já que
“supor” significa “achar, ter um palpite”. E se um Promotor alucinado denunciar
o Fulano dizendo ao Juiz que “tem um palpite de que o Fulano roubou”, o Juiz,
se não for outro maluco, vai mandá-lo estudar mais.
Ora, conhecer línguas estrangeiras e Direito não é dever de qualquer
jornalista. Mas é obrigação dele procurar se informar antes de falar e escrever
besteira. Se não o faz e joga no mundo um monte de bobagens, é um jornalista
nanico e um enorme arrogante: acha que já sabe tudo e não precisa de se
informar antes de... informar.
Mas tudo isso é tolerável com uma boa dose de humor. O que esculhamba é um
ministro que se diz da Educação (?) apregoar aos quatro ventos que falar
e escrever “nóis fais café” está ótimo, porque isso ajuda na socialização
(!) da Língua Portuguesa. Esse não é só arrogante; é doente.
É onde eu te falo...
Rubens, antes de tudo, devo confessar que sua observação é de total pertinência, mas aviso:há muitos mais aloprados, que possamos sonhar em nossa vã filosofia.
ResponderExcluirPaella vivo tendo que corrigir.
Sameliê, Sumeliêr, chardonê e que tais, é mais comum do que entrar com uma liminar.
Bravo!
Abraços de luz
Álvaro Cézar Galvão