Para Antônio Ferederico Bastos, barbacenense de São José dos Campos, coronel da Força Aérea, fisósofo, filólogo, musicólogo e outros "ólogos", enófilo costumado, doutor em tecnologias muitas e ciências afins; e, acima disso, um sujeito de "acrosiladas vertudes"
A sociedade brasileira acompanha atentamente o custoso
julgamento da Ação Penal 470, que versa o dito Mensalão pelo Supremo Tribunal.
E com a mesma atenção, assunta o desdobramento das reações inconformadas que
manifestam os condenados semanais e respectivos parceiros ideológicos. Eu já
previra aqui esse fenômeno; como, de resto, prevera qualquer pessoa lúcida.
Seria ingenuidade imaginar que réus e alinhados acatassem, sem tugir nem mugir,
o caudal de condenações que, três vezes por semana, a Corte pronuncia a grosso
e a retalho.
No fundo, pouco se me dá que os
chamados mensaleiros sejam condenados ou absolvidos. A tarefa de julgar é do
Poder Judiciário, não minha. Então, fico naquela: hipótese 1 – eles são
condenados; se eu estou de acordo, tudo bem; se não estou, a minha discordância
não os absolverá; hipótese 2 – eles são absolvidos; se eu estou de acordo, tudo
bem; se não estou a minha discordância não os condenará. Sendo assim, que se
arrumem pra lá os réus e os julgadores.
Todavia, os
sinais são inquietantes, a julgar pelas informações da mídia. Os condenados,
com o halo santificado de vítimas heróicas, desmerecem as decisões da Corte,
dizendo-as falaciosas, injustas, de exceção, parciais, políticas e sem a devida
escora probatória; e os alinhados promovem eventos de desagravo àqueles. Ou
seja, o sujeito pratica um crime, é condenado por ele e é aplaudido como herói.
Se bem entendi, delinqüir enaltece o criminoso!
Mas, espera
aí. Desde quando praticar um crime e ser pronunciado criminoso pela Justiça é
razão de aplauso? Acho que estou ficando doido. Até pouco tempo eu supunha que
a prática do crime era uma desonra e que o lançamento do criminoso no “rol dos
culpados” era uma nódoa. Vejo que estava enganado; e só agora percebo como as
coisas são nestes tempos de demência: ser criminoso e ser apenado pelo crime
são fatos que engrandecem. Homessa!
Não era para ser assim. Se o Poder da
República encarregado de julgar diz que eu sou criminoso, a sociedade deve
aceitar esse pronunciamento, não me encher de loas e cantar madrigais em minha
homenagem. Mas não é o que acontece. Os condenados e seus alinhados rugem diatribes
contra o Poder Judicante, no que contam, aliás, com jornalistas de grande
penetração. Há semanas venho lendo os artigos da Sra. Teresa Cruvinel. Implacável,
rude, mão pesada, justiceiro, ou predicados similares, eram o mínimo que ele
endereçava ao Dr. Joaquim Barbosa. Quando este, no seu feitio desabrido,
informou que “o Supremo Tribunal não deve satisfação a ninguém”, não se conteve
a jornalista, com inescondíveis respingos de irritação, perceptíveis nas
dobras do seu texto. Disse ela, mais ou menos assim: É, pode ser assim, mas não
se deve esquecer da História, que embora chegante sempre atrasada, também faz
os seus julgamentos... Pois é. Para bom entendedor...
A questão é
que Brasil ainda não se despregou do pecado atávico de só achar fedorentos os
crimes dos marginais de rua e de recalcitrar ante a condenação de figurões. A
frase “ sabe com quem está falando? ” ainda tem severos efeitos psicológicos
nestas plagas tupiniquins. Efeitos daninhos, claro.
Tomara que
eu esteja enganado, mas me assalta o receio (justo receio, como diz a lei) de
um encadeamento de desatinos prestes a desabar sobre a Nação. Parodiando o ótimo
Alceu Valença,
“eu já escuto os teus sinais”. Não é exercício de
futurologia nefasta; é medo. Medo de quem já viu coisas e tem razões de não
duvidar de muitas delas. Costumo ser bom nisso. Aliás, também parodiando, tomo do
excelente e saudoso João Nogueira um pedaço de frase para emoldurar os meus
poderes de vidente amador: nessas coisas eu também sou bambambã.
É onde eu te falo...
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