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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

SINAIS PERCEBIDOS POR UM BAMBAMBÃ AMADOR



         
Para Antônio Ferederico Bastos, barbacenense  de São José  dos Campos, coronel da Força Aérea,    fisósofo, filólogo, musicólogo e outros "ólogos", enófilo costumado, doutor em tecnologias muitas e ciências afins; e, acima disso, um sujeito de "acrosiladas vertudes"



            A sociedade brasileira acompanha atentamente o custoso julgamento da Ação Penal 470, que versa o dito Mensalão pelo Supremo Tribunal. E com a mesma atenção, assunta o desdobramento das reações inconformadas que manifestam os condenados semanais e respectivos parceiros ideológicos. Eu já previra aqui esse fenômeno; como, de resto, prevera qualquer pessoa lúcida. Seria ingenuidade imaginar que réus e alinhados acatassem, sem tugir nem mugir, o caudal de condenações que, três vezes por semana, a Corte pronuncia a grosso e a retalho.
No fundo, pouco se me dá que os chamados mensaleiros sejam condenados ou absolvidos. A tarefa de julgar é do Poder Judiciário, não minha. Então, fico naquela: hipótese 1 – eles são condenados; se eu estou de acordo, tudo bem; se não estou, a minha discordância não os absolverá; hipótese 2 – eles são absolvidos; se eu estou de acordo, tudo bem; se não estou a minha discordância não os condenará. Sendo assim, que se arrumem pra lá os réus e os julgadores.
            Todavia, os sinais são inquietantes, a julgar pelas informações da mídia. Os condenados, com o halo santificado de vítimas heróicas, desmerecem as decisões da Corte, dizendo-as falaciosas, injustas, de exceção, parciais, políticas e sem a devida escora probatória; e os alinhados promovem eventos de desagravo àqueles. Ou seja, o sujeito pratica um crime, é condenado por ele e é aplaudido como herói. Se bem entendi, delinqüir enaltece o criminoso!
            Mas, espera aí. Desde quando praticar um crime e ser pronunciado criminoso pela Justiça é razão de aplauso? Acho que estou ficando doido. Até pouco tempo eu supunha que a prática do crime era uma desonra e que o lançamento do criminoso no “rol dos culpados” era uma nódoa. Vejo que estava enganado; e só agora percebo como as coisas são nestes tempos de demência: ser criminoso e ser apenado pelo crime são fatos que engrandecem. Homessa!
            Não era para ser assim. Se o Poder da República encarregado de julgar diz que eu sou criminoso, a sociedade deve aceitar esse pronunciamento, não me encher de loas e cantar madrigais em minha homenagem. Mas não é o que acontece. Os condenados e seus alinhados rugem diatribes contra o Poder Judicante, no que contam, aliás, com jornalistas de grande penetração. Há semanas venho lendo os artigos da Sra. Teresa Cruvinel. Implacável, rude, mão pesada, justiceiro, ou predicados similares, eram o mínimo que ele endereçava ao Dr. Joaquim Barbosa. Quando este, no seu feitio desabrido, informou que “o Supremo Tribunal não deve satisfação a ninguém”, não se conteve a jornalista, com inescondíveis respingos de irritação, perceptíveis nas dobras do seu texto. Disse ela, mais ou menos assim: É, pode ser assim, mas não se deve esquecer da História, que embora chegante sempre atrasada, também faz os seus julgamentos... Pois é. Para bom entendedor...
            A questão é que Brasil ainda não se despregou do pecado atávico de só achar fedorentos os crimes dos marginais de rua e de recalcitrar ante a condenação de figurões. A frase “ sabe com quem está falando? ” ainda tem severos efeitos psicológicos nestas plagas tupiniquins. Efeitos daninhos, claro.
            Tomara que eu esteja enganado, mas me assalta o receio (justo receio, como diz a lei) de um encadeamento de desatinos prestes a desabar sobre a Nação. Parodiando o ótimo Alceu Valença,
“eu já escuto os teus sinais”. Não é exercício de futurologia nefasta; é medo. Medo de quem já viu coisas e tem razões de não duvidar de muitas delas. Costumo ser bom nisso. Aliás, também parodiando, tomo do excelente e saudoso João Nogueira um pedaço de frase para emoldurar os meus poderes de vidente amador: nessas coisas eu também sou bambambã.  
           
   É onde eu te falo...

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