O boi tem
quatro estômagos, ouvi dizer. Prodígio? Não. Apenas necessidade de um sistema
digestivo especial. Prodigiosas são as autoridades fiscais brasileiras que têm
quatrocentos buchos. Pois é. Mais que as pessoas físicas, os empresários
reclamam contra a carga tributária a que se sujeitam. Com razão uns e outros. A
queixa procede. Políticas fiscais primitivas são próprias de governantes
ineptos e administradores rudimentares, para quem governar é uma peça em dois
atos: tributar e aumentar os tributos. Fazer o quê?
As empresas
brasileiras fazem o diabo no afã de abrandar a fome tributária nacional – sem
êxito, porque o Parlamento, fraco e interesseiro, não quer desgostar o
Executivo, que lhes abre as torneiras politiqueiras. Desiludidos, os
empresários inventam saídas que lhes atenuem o desembolso – nem tão grande, afinal,
visto que repassam ao consumidor cada extorsão que lhes faz o governo, como é
notório.
A mais nova
idéia, que leio nos jornais, foi idealizada pelos vitivinicultores gaúchos:
eles querem, via tributação forte, encarecer o vinho estrangeiro,
na suposição de que isso fomentará o consumo dos vinhos nacionais. Solução que,
é quase certo, despertará os sorrisos das autoridades fiscais. É o mesmo que
perguntar à saúva se ela quer brotinhos suculentos.
No entanto, tenho cá minhas dúvidas de que a
proposição gaúcha renderá os trunfos que pretende. O encarecimento do produto
estrangeiro não vai forçar, necessariamente, a opção pelo vinho brasileiro; até
porque, na proposta dos vinhateiros nacionais, estariam fora do arrocho
governamental os vinhos chilenos, paraguaios e argentinos - que são,
justamente, os estrangeiros mais vendidos aqui, donde a possibilidade de não
ser assim tão saborosa a fatia originada do encarecimento dos vinhos forâneos.
A medida em
questão pode até gerar algum ganho, mas dificilmente ele será expressivo.
Barreiras fiscais são faca de dois gumes, todos sabem. Melhor fariam os
produtores gaúchos se batessem o pé diante de Suas Majestades, os arrecadadores
de impostos. E tratassem de baratear os seus vinhos no mercado interno, pelo
menos até que as bocas brasileiras percebessem como são excelentes os vinhos da
Serra Gaúcha.
Reconheço
que isso é tarefa de alta carregação: no seu primitivismo, os governantes
brasileiros qualificam o vinho (qualquer um) como “artigo de luxo”, ao invés de
considerá-lo item normal da dieta – como nos países mais evoluídos mentalmente.
Por mais,
adegas e restaurantes estrelados não deixariam de vender vinhos portugueses,
espanhóis, italianos, californianos, da Nova Zelândia, da África do Sul, da
Austrália, até do Butão
(não conheço quem já tenha tomado vinho desse lugar, mas por
via das dúvidas...). Enófilos abonados e babacas faroleiros não se privariam do
vinho estrangeiro por trinta mirréis a mais ou a menos.
O grande
perigo é que o tiro saia pela culatra: não se pode confiar nas autoridades
fiscais brasileiras; se a importação cair um pouco, elas vão, isso sim,
espoliar mais a vitivinicultura nacional. Uma coisa é certa: os palácios do
poder não hospedam muitos bebedores de vinho, razão da má vontade governamental
em incentivar-lhe o consumo. Além disso, há grupos que já divulgam via Internet,
até com foros ditos científicos, que Cristo não bebia vinho, mas suco de uva. Só não
explicam se de embalagem Tetra Pak.
É onde eu
te falo...
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