Justamente
quando o Islã se incendeia contra as representações diplomáticas americanas,
vem a lume um fragmento de papiro escrito lá pelo Século IV D.C., cujo texto
sugere que Jesus teve uma ligação conjugal, ou similar - com mulher, cujo nome
não se sabe. A sugestão não é nova, como é notório. Historiadores e escritores
vêm, não de hoje, insinuando - às vezes afirmando – esse envolvimento amoroso.
Saramago, o do Ribatejo, foi considerado anátema por falar disso.
Estes
considerandos me conduzem a duas abordagens.
Primeira - Guerras
religiosas são coisa antiga. A bem dizer, começaram quando o homem da caverna teve a
primeira concepção de divindade - em busca de proteção, dado o pavor que os fenômenos naturais lhe inspiravam. Deuses disso e daquilo viraram moda e cada aglomerado
tribal, tratou de entronizar os seus. O Planeta se encheu de deuses. Como era
de esperar, surgiram as rixas: - Os nossos deuses são superiores aos seus, ô
mané! Pronto. Daí para as escaramuças foi um pulo. Esse clima, veladamente ou
nas vias de fato, permanece até hoje. Cada adepto diz que o seu deus é o maior
e verdadeiro”. Existem muitos deuses e cada um deles é “o verdadeiro” – sugerindo que os demais são “genéricos”, sem selo
de pureza e certificado ISO.
Nesse
milenar confronto divinal, guerras em profusão, a grosso e a retalho. Para não
ir muito longe no tempo, basta citar a França do Século XVI, onde, no curto
espaço de 36 anos, foram travadas nada menos de oito guerras religiosas ! As
famosas Cruzadas, maquiadas como guerras pela supremacia de um deus, não entram
nisso, a meu ver; as Cruzadas foram apenas invasões predatórias de feição
colonialista, financiadas por reis e papas na bancarrota, para quem a ordem era
saquear os reinos ismaelitas. Pirataria pura e simples, a pretexto de resgatar
os locais sagrados da Terra Santa das “mãos infiéis” e levar a fé cristã aos gentios
do Oriente Médio. Na verdade, tirante uma ou outra guerra de fundo efetivamente
religioso, as demais tinham – e ainda hoje – o DNA político/econômico:
política e economia são faces da mesma moeda.
Agora um débil mental
egípcio/americano realiza um filme que achincalha o Profeta Maomé, dizendo-o
ladrão, pedófilo, canalha, puteiro e outras qualificações nada amáveis. A essa
provocação injusta e esse grande desrespeito, o povo islamita reage
violentamente, por verdadeira causa religiosa, mas... não passam sem nota os
movimentos insufladores dos dedinhos políticos nesses rebentões. É lícito
prever que também a França terá os mesmos desgostos, já que outro débil mental,
agora gaulês, agride o islamismo em caricatura onde o Profeta exibe glúteos e
genitália. Será um deliberado andaço contra o Islã? Será que por baixo desse
angu tem carne seca e alguém está colhendo os trunfos desse desatino? Não se
sabe. Mas que está esquisito, isso está.
Não gosto quando falam mal de Alá
e seu Profeta. Livre-pensador irredutível, não sigo religião alguma. Mas, se
tivesse que adotar uma, eu penderia facilmente para a dos muçulmanos. Um
detalhe me levou, sempre, a ver Alá como o deus mais inteligente, realista e clemente
dentre tantos que eventualmente existam. Costumado às divindades
judaico-cristãs, atinei que Alá, como oram os muçulmanos, é verdadeiramente compassivo
e misericordioso, ao contrário dos deuses ocidentais. Estes, se você não lhes
segue as prescrições, matam-no de pancada ou o destinam ao fogo eterno, sem
dirimentes e atenuantes. Alá, não. Sabedor de que criou seres imperfeitos, não
leva as coisas a ferro e fogo. Então, ele diz que você não deve pecar; mas,
quando você peca, “Alá sabe o que vai no seu coração” – assim está escrito no
Corão. Haverá divindade mais carinhosa, mais paternal e menos apegada ao
castigo? Positivamente, Alá é um grande Deus!
Segunda -
Mais do que as idéias de José Saramago, o tal fragmento de papiro do Século IV
vai dar pano pra manga. As cúpulas cristãs, a católica principalmente, e os respectivas
seguidores vão entrar em convulsão. Onde já se viu um Jesus casado? Ou amigado,
“ficante”, o que seja? Nem pensar. É blasfêmia em dose superlativa.
No entanto,
cá na minha posição de gentio impenitente, eu pergunto: por que razão Jesus tem que ser celibatário? Ninguém responde
satisfatoriamente; apenas rodeiam em torno de uma tradição e de uma dedicação full time à pregação evangélica. Pois é.
Depois, quando historiadores e quejandos comentam que Jesus, depois da famosa
discussão com os doutores da lei, no Templo, foi viver junto à comunidade
essênia, a intelligentzia cristã esgoela contestações... Por quê? Consta que os
essênios, se não eram boiolas, pelo menos tinham uma... certa alergia... às
mulheres. Todo bem, cada um se entende a seu modo. Mas, também já li que os
essênios eram até maneiros e confiáveis. Tudo são presunções, à falta de
comprovação objetiva. Mas uma coisa é certa: não existe, e não existe mesmo,
nenhuma comprovação documental de que Jesus tenha sido solteiro!
É onde eu
te falo...
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