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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

COMPLICAÇÕES RELIGIOSAS



            Justamente quando o Islã se incendeia contra as representações diplomáticas americanas, vem a lume um fragmento de papiro escrito lá pelo Século IV D.C., cujo texto sugere que Jesus teve uma ligação conjugal, ou similar - com mulher, cujo nome não se sabe. A sugestão não é nova, como é notório. Historiadores e escritores vêm, não de hoje, insinuando - às vezes afirmando – esse envolvimento amoroso. Saramago, o do Ribatejo, foi considerado anátema por falar disso.
            Estes considerandos me conduzem a duas abordagens.
            Primeira - Guerras religiosas são coisa antiga. A bem dizer, começaram quando o homem da caverna teve a primeira concepção de divindade - em busca de proteção, dado o pavor que os fenômenos naturais lhe inspiravam. Deuses disso e daquilo viraram moda e cada aglomerado tribal, tratou de entronizar os seus. O Planeta se encheu de deuses. Como era de esperar, surgiram as rixas: - Os nossos deuses são superiores aos seus, ô mané! Pronto. Daí para as escaramuças foi um pulo. Esse clima, veladamente ou nas vias de fato, permanece até hoje. Cada adepto diz que o seu deus é o maior e verdadeiro”. Existem muitos deuses e cada um deles é “o verdadeiro” – sugerindo que os demais são “genéricos”, sem selo de pureza e certificado ISO.
            Nesse milenar confronto divinal, guerras em profusão, a grosso e a retalho. Para não ir muito longe no tempo, basta citar a França do Século XVI, onde, no curto espaço de 36 anos, foram travadas nada menos de oito guerras religiosas ! As famosas Cruzadas, maquiadas como guerras pela supremacia de um deus, não entram nisso, a meu ver; as Cruzadas foram apenas invasões predatórias de feição colonialista, financiadas por reis e papas na bancarrota, para quem a ordem era saquear os reinos ismaelitas. Pirataria pura e simples, a pretexto de resgatar os locais sagrados da Terra Santa das “mãos infiéis” e levar a fé cristã aos gentios do Oriente Médio. Na verdade, tirante uma ou outra guerra de fundo efetivamente religioso, as demais tinham – e ainda hoje – o DNA político/econômico: política e economia são faces da mesma moeda.
Agora um débil mental egípcio/americano realiza um filme que achincalha o Profeta Maomé, dizendo-o ladrão, pedófilo, canalha, puteiro e outras qualificações nada amáveis. A essa provocação injusta e esse grande desrespeito, o povo islamita reage violentamente, por verdadeira causa religiosa, mas... não passam sem nota os movimentos insufladores dos dedinhos políticos nesses rebentões. É lícito prever que também a França terá os mesmos desgostos, já que outro débil mental, agora gaulês, agride o islamismo em caricatura onde o Profeta exibe glúteos e genitália. Será um deliberado andaço contra o Islã? Será que por baixo desse angu tem carne seca e alguém está colhendo os trunfos desse desatino? Não se sabe. Mas que está esquisito, isso está.
Não gosto quando falam mal de Alá e seu Profeta. Livre-pensador irredutível, não sigo religião alguma. Mas, se tivesse que adotar uma, eu penderia facilmente para a dos muçulmanos. Um detalhe me levou, sempre, a ver Alá como o deus mais inteligente, realista e clemente dentre tantos que eventualmente existam. Costumado às divindades judaico-cristãs, atinei que Alá, como oram os muçulmanos, é verdadeiramente compassivo e misericordioso, ao contrário dos deuses ocidentais. Estes, se você não lhes segue as prescrições, matam-no de pancada ou o destinam ao fogo eterno, sem dirimentes e atenuantes. Alá, não. Sabedor de que criou seres imperfeitos, não leva as coisas a ferro e fogo. Então, ele diz que você não deve pecar; mas, quando você peca, “Alá sabe o que vai no seu coração” – assim está escrito no Corão. Haverá divindade mais carinhosa, mais paternal e menos apegada ao castigo? Positivamente, Alá é um grande Deus!
            Segunda - Mais do que as idéias de José Saramago, o tal fragmento de papiro do Século IV vai dar pano pra manga. As cúpulas cristãs, a católica principalmente, e os respectivas seguidores vão entrar em convulsão. Onde já se viu um Jesus casado? Ou amigado, “ficante”, o que seja? Nem pensar. É blasfêmia em dose superlativa.
            No entanto, cá na minha posição de gentio impenitente, eu pergunto: por que razão Jesus tem que ser celibatário? Ninguém responde satisfatoriamente; apenas rodeiam em torno de uma tradição e de uma dedicação full time à pregação evangélica. Pois é. Depois, quando historiadores e quejandos comentam que Jesus, depois da famosa discussão com os doutores da lei, no Templo, foi viver junto à comunidade essênia, a intelligentzia  cristã esgoela contestações... Por quê? Consta que os essênios, se não eram boiolas, pelo menos tinham uma... certa alergia... às mulheres. Todo bem, cada um se entende a seu modo. Mas, também já li que os essênios eram até maneiros e confiáveis. Tudo são presunções, à falta de comprovação objetiva. Mas uma coisa é certa: não existe, e não existe mesmo, nenhuma comprovação documental de que Jesus tenha sido solteiro!

            É onde eu te falo...

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