No Estado
de Minas de 22/5/12, pág. 12, um repórter conta que a Polícia abateu “três
suspeitos em tentativa de assalto a um posto de combustíveis no Bairro do
Cambuci” (sic). O leitor racional atina logo: três indivíduos que pareciam estar tramando o assalto foram
mortos pela Polícia. Sim, porque eram apenas suspeitos de tentar o assalto.
No entanto,
mais adiante, diz a nota que “armados, os criminosos renderam dois clientes e
dois funcionários e começaram a recolher o dinheiro dos caixas e das vítimas”
(sic, de novo). Justamente nesse momento a ronda policial “flagrou a ação e os
ladrões tentaram fugir” (sic, outra vez); a coisa desandou em tiroteio, no qual
os tais “suspeitos” morreram. É muito!
Ou, como dizia Véi Osório, é munto!
Véi Osório, conheci-o em criança,
era mateiro antigo, sabedor de folhas e raízes, que detinha os segredos de
garrafadas infalíveis para males de qualquer etiologia, de caspa a
desorientação puerperal; sem contar seus extraordinários dotes de caçador e a
genialidade para assar uma leitoa. Quando lhe diziam alguma coisa absurda, ou
desencontrada, ele manifestava a sua descrença com uma simples expressão: - É
munto! Então perguntavam: - Munto o quê, Véi? Ele respondia, na bucha: - Munto
difice di aceitá...
Mas deixemos Véi Osório de lado e
voltemos à nota em questão. Positiva e decididamente,
muitos jornalistas não conseguem entender o significado de
“suspeito”. Melhor ir ao Aurélio: “suspeito - que infunde suspeitas;
duvidoso... que inspira desconfiança”.
Pois é. Os
três “criminosos” (agentes de um crime) rendem clientes e funcionários a poder
de armas, e recolhem o dinheiro dos caixas quando são surpreendidos pela
Polícia com quem trocam tiros. E ainda são... suspeitos (!) - segundo o autor
da nota! Mas, os policiais os surpreenderam durante a própria execução do crime; ou
melhor, os “criminosos” estavam
praticando o delito. E ainda são apenas meros suspeitos... Tem dó, né?
No entender
do jornalista, portanto, os indivíduos que ele qualifica como “criminosos” e
“ladrões”, estavam só idealizando ou preparando o roubo que iriam cometer! Suspeitos... Dá pra agüentar?
Tá bom, tá bom. Jornalista não precisa de diploma em Direito. Mas precisa, no
mínimo, de procurar saber do que está falando, seja perguntando a quem sabe,
seja consultando um simples dicionário. A definição legal de “suspeito” é a
mesma definição léxica; não é preciso diploma de bacharel ou doutor em Direito
para entender que alguém só é suspeito de um crime enquanto não houver prova
objetiva da sua culpabilidade, ou, no mínimo, fortíssima prova indiciária de
autoria. No caso dos três indivíduos citados pelo repórter, a prova do crime e
da autoria estava feita: os bandidos haviam rendido pessoas com armas e estavam
recolhendo o dinheiro. Isso será tão difícil de entender?
O repórter
entende que se o agente não consegue consumar o crime (como no caso) ele é
apenas... suspeito, mesmo que flagrado em plena execução do crime. Então, por que
os qualifica como criminosos e ladrões? Já passou da hora de diretores,
editores, revisores, copidesques, quem seja, montar um cursinho de “Tinturas de
Direito” (ou que nome queiram), nada profundo, para o seu pessoal que se mete a
escrever sobre o que não sabe. Ou o leitor é antes de tudo um idiota e pra
idiota qualquer besteira serve? Talvez seja isso. De todo modo, para as
barbaridades e impropriedades que às vezes saem no jornais só se pode dizer: - É munto!
É onde eu te falo...
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