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quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ouvir o galo cantar sem saber onde

            Grandes jornalistas fizeram e fazem a glória da Imprensa nacional. Não é preciso citá-los nominalmente, porque a comunidade de leitores assíduos os conhece de sobra. Mas tem cada um que... faça-me o favor.
            No Estado de Minas de 22/5/12, pág. 12, um repórter conta que a Polícia abateu “três suspeitos em tentativa de assalto a um posto de combustíveis no Bairro do Cambuci” (sic). O leitor racional atina logo: três indivíduos que pareciam estar tramando o assalto foram mortos pela Polícia. Sim, porque eram apenas suspeitos de tentar o assalto.
            No entanto, mais adiante, diz a nota que “armados, os criminosos renderam dois clientes e dois funcionários e começaram a recolher o dinheiro dos caixas e das vítimas” (sic, de novo). Justamente nesse momento a ronda policial “flagrou a ação e os ladrões tentaram fugir” (sic, outra vez); a coisa desandou em tiroteio, no qual os tais “suspeitos” morreram. É muito!
Ou, como dizia Véi Osório, é munto!
Véi Osório, conheci-o em criança, era mateiro antigo, sabedor de folhas e raízes, que detinha os segredos de garrafadas infalíveis para males de qualquer etiologia, de caspa a desorientação puerperal; sem contar seus extraordinários dotes de caçador e a genialidade para assar uma leitoa.   Quando lhe diziam alguma coisa absurda, ou desencontrada, ele manifestava a sua descrença com uma simples expressão: - É munto! Então perguntavam: - Munto o quê, Véi? Ele respondia, na bucha: - Munto difice di aceitá...
Mas deixemos Véi Osório de lado e voltemos à nota em questão. Positiva e decididamente,
muitos jornalistas não conseguem entender o significado de “suspeito”. Melhor ir ao Aurélio: “suspeito - que infunde suspeitas; duvidoso... que inspira desconfiança”.
            Pois é. Os três “criminosos” (agentes de um crime) rendem clientes e funcionários a poder de armas, e recolhem o dinheiro dos caixas quando são surpreendidos pela Polícia com quem trocam tiros. E ainda são... suspeitos (!) - segundo o autor da nota! Mas, os policiais os surpreenderam durante a própria execução do crime; ou melhor, os “criminosos” estavam praticando o delito. E ainda são apenas meros suspeitos... Tem dó, né?
            No entender do jornalista, portanto, os indivíduos que ele qualifica como “criminosos” e “ladrões”, estavam só idealizando ou preparando o roubo que iriam cometer! Suspeitos... Dá pra agüentar? Tá bom, tá bom. Jornalista não precisa de diploma em Direito. Mas precisa, no mínimo, de procurar saber do que está falando, seja perguntando a quem sabe, seja consultando um simples dicionário. A definição legal de “suspeito” é a mesma definição léxica; não é preciso diploma de bacharel ou doutor em Direito para entender que alguém só é suspeito de um crime enquanto não houver prova objetiva da sua culpabilidade, ou, no mínimo, fortíssima prova indiciária de autoria. No caso dos três indivíduos citados pelo repórter, a prova do crime e da autoria estava feita: os bandidos haviam rendido pessoas com armas e estavam recolhendo o dinheiro. Isso será tão difícil de entender? 
            O repórter entende que se o agente não consegue consumar o crime (como no caso) ele é apenas... suspeito, mesmo que flagrado em plena execução do crime. Então, por que os qualifica como criminosos e ladrões? Já passou da hora de diretores, editores, revisores, copidesques, quem seja, montar um cursinho de “Tinturas de Direito” (ou que nome queiram), nada profundo, para o seu pessoal que se mete a escrever sobre o que não sabe. Ou o leitor é antes de tudo um idiota e pra idiota qualquer besteira serve? Talvez seja isso. De todo modo, para as barbaridades e impropriedades que às vezes saem no jornais só se pode dizer: - É munto!
             É onde eu te falo...

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