Rua da Bahia. Defronte o antigo Clube Belo Horizonte,
esquina com Rua Guajajaras.
Ah, quanta saudade! E com justa razão, aliás. Havia na
cidade restaurante que, ao menos, se igualasse ao Albamar? Pois não havia. Aquilo
era um paraíso gastronômico, ao tempo em que a gastronomia era uma coisa mais
séria. Isso, pelo geral; há exceções, claro.
Existisse ainda hoje, uns dois, no máximo,
chegariam à sua estatura de cozinha celeste. Nestes tempos de hoje os pratos,
com seus enfeites de mil cores lembram telas de Miró; e o que chamaríamos de
“arte final” é uma composição ao estilo rococó superlativo-espichado, onde os
enfeites gritam alardes num equilíbrio improvável.
No Albamar, não. Antônio Faleiro era um restaurater
de formosas pretensões. Ali, nada de ficções, nenhum artifício mágico. Nem o
Chefe não ligava para essas prestidigitações ornamentais. Os pratos tinham
cores, sim, e belas; mas não eram como as fantasias da Marquês de Sapucaí, que
concorrem com o arco-íris. Depois, o que vinha nos pratos - sempre
apresentados sob um cloche elegante e servidos com sobra de classe
- eram, realmente, complementos naturais da pièce de résistence. Nada de
riscos, rendinhas e mosaicos desenhados com molhos reduzidos à exaustão, cujo
sabor tanto pode lembrar jabuticaba quanto chocolate amargo, ou borra de café.
À época não se falava em decoração, mas em guarnição. Acho que dá para
entender, né?
Enfim, os tempos mudam: “nada do que foi será de novo do
jeito que já foi um dia”, cantam por aí. Mas, sem nenhum saudosismo enfermiço,
os aromas e os sabores do Albamar, nem sempre os vejo repetidos. É pena.
Depois, os garçons eram preciosos. José Albino,
Joãozinho, José Pedro... que profissionais! Como sabiam indicar o melhor peixe,
sugerir o polvo mais saboroso, as lulas, os filés, as aves, os cremes... Ah,
sabiam até indicar o vinho corretamente adequado, quase sempre um verde, porque
na adega reinavam, sem contestação e enxovalho, os maravilhosos verdinhos de
Portugal - com bolhas e agulhas, hoje igualmente perdidas, espero que não para
sempre.
Pois é. Quem teve o privilégio de saborear a garoupa ou o
namorado, o verdadeiro filé à Rossini (com fígado de ganso), o polvo ao
vinagrete ou só com batatinhas e arroz de frutas secas, as lulas recheadas ou
apenas grelhadas no braseiro, a..., o... Ora, o que mais dizer? Daquela cozinha
só saíam perfeições. O segredo? Não sei; acho que havia muitos segredos. Mas um
deles foi revelado a todo habitué: ausência de fricotes, zelo elevado às
alturas e toneladas de savoir faire. Por sorte existem as exceções, os
pratos dos Chefes que não entram na “mesmice novidadeira”. Aplausos.
Hoje caprichei no Francês; homenagem ao saudoso Antônio
Faleiro. E o que esperavam num texto retroativo à velha comida dos Deuses?
É onde eu te falo...
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