Você conhece Gonçalves? Pois não conhece. Nem eu. Nem
Andréa, minha feliz consorte. Poucos da Capital sabem dessa cidadezinha
mineira, na beira da divisa paulista. Mas assistimos ao filme e lemos os
folders que a divulgaram na abertura do seu 1º. Festival de Gastronomia &
Cultura da Roça. Ah, que encanto! Impossível não se apaixonar.
Adriano Vieira e Braian Cadmiel |
A serrania envolve o lugar com carinho maternal; estou
certo; disseram-me que a Mantiqueira é mãe amorosa. Lá em baixo, junto aos sopés
dos montanhas, Gonçalves. É um presépio. Um presépio serrano, com cascata,
boiada, moinho, carro de boi, moda de viola. Mas, moda de viola mesmo; e tocada
por violeiros que sabem tudo das primas e bordões que se entremeiam nas fieiras
de cordas duplas. Não é essa fraude de cantores vestidos à texana, com botas
pontudas, chapelão de “ranger” e camisa de cowboy hollywoodiano, com tirinhas
de couro e apliques de metal dourado. Não, senhor. Os músicos de Gonçalves,
como os seus descantes e seus acordes, são autênticos.
Na festa de abertura reinou a canjiquinha com costela de
porco. Mas fiquei sabendo que em Gonçalves a culinária mineira, além do título
de mineirismo puro, tem certidão de excelência. Não, certamente, só pelos
fogões de lenha e pelos fornos de barro, que isso há de sobra em toda zona
rural. A questão é que os gonçalvenses sabem mesmo o que fazer nos seus fornos
e nas trempes dos seus fogões. Frigir, brasear, refogar e assar, para eles são
artes naturais da alquimia honesta e sábia de que resultam iguarias celestes;
inclusive a doçaria e a mesa de desjejum, com café no bule, queijo fresco e
curado, mais as maravilhas quitandeiras – a quitanda mineira, que enternece o
paladar e faz carinhos na alma...
Marília Ribeiro - Dir de Turismo |
Depois, a extrema cordialidade dos representantes que o
Prefeito de Gonçalves mandou a Belo Horizonte cativou o público. Eles vieram,
mestres de cerimônia, gente da cozinha, gente da mídia, artistas, como anjos
anunciadores do seu primeiro Grande Festival. Mas anjos sem trombetas, que trouxeram
nos seus balaios ingredientes que andam vasqueiros nestes tempos materialistas:
cortesia, dedicação e seriedade profissional banhados ao molho de
sorrisos verdadeiros, mais o jeitão singelo e matreiro, só conhecido daquele
que “toma de Minas a estrada”, para usar expressão de Gonzaga, o
Inconfidente.
Agora, o que me enche de alegria, e de esperança, é
justamente o perfil do Festival. Nada daqueles festivais cuja finalidade real é
bajular personalidades com banquetes de Versailles, assinados por chefes
estrelados, que às vezes nem falam português; e quando falam, salvo raríssima
exceção, não conhecem o DNA mineiro. Nada de deslumbramentos e hotelaria cara.
Ranço de frescura, culto ao ego e arrogância entojada no Festival de Gonçalves?
Nem vê! Do que estou informado, este será um festival verdadeiramente rural;
rural até à medula. Cada cozinheiro local apresentará sua visão particular do
que é culinária da roça e servirá
suas especialidades na praça central, aberta ao público. Não haverá, como
acontece por aí, essa coisa esquisita dos eventos esnobes de degustação
exclusiva, para regalo só de figurão e enfant gâté. Vai ser um “trem da roça”,
mesmo. E, acima de tudo, mineiro!
Aplausos para a Administração de Gonçalves. Tomara que a intenção
mineiramente sadia dos promotores do Festival seja a água benta que pode
exorcizar o fantasma desses festivais enfeitados, vazios e bobos, que assolam
as Gerais. A festa rural de Gonçalves acontecerá de 7 a 16 de Outubro próximo.
Pretendo estar lá; com Andréa, evidentemente.
Relembrando Gonzaga, acho que “tomar de Minas a estrada”
é bordejar a Serra e pousar na suavidade roceira de Gonçalves. É ir lá pra ver.
Quer saber mais? Acesse o blog - http://gastronomiagoncalves.blogspot.com/
É onde eu te falo...