Alguns dos vinhos verdes degustados |
- Seja uma reta! - dizia o professor de Matemática, que traçava no quadro negro uma reta entre os pontos hipotéticos a e b. Aí o verbo “seja” não era dito na voz imperativa (ordem), mas no subjuntivo (proposição). A frase, pois, não era ordem ou conselho para que o aluno se transformasse numa reta, mas para que ele considerasse uma reta imaginária, relativamente à qual era proposto um problema – p. ex., traçar sobre ela uma linha perpendicular. Hoje os professores adotam métodos diferentes e um palavreado mais terra-terra, menos acadêmico; até porque a moçada atual (que escreve “naum” em lugar de “não”) ficaria por entender.
Ciente de que os meus leitores são
gente de muita leitura, proponho-lhes: - Seja um bacalhau à Gomes de Sá!
Essa iguaria celeste está no
Restaurante do Porto; e você lá. Como o programa diz que lhe servirão vinhos
verdes, você já está com a boca cheia d’água e a alma em festa. De repente ouve
a voz carregada de Antonino Barbosa, português de longo curso e rápidos falares,
que lhe apresenta as suas estrelas da noite: dois Muralhas de Monção, um Adega
de Monção e um Rosé Deu La Deu. Todos em Belo Horizonte representados por Carlos Pereira, da Barrinhas (31)3287.0580.
O branco Adega de Monção DOC,
leve como deve ser um verdinho branco para o verão, tem certa presença gasosa,
notada no colar de bolhas que brincam na orla. Combinação muito agradável de
Alvarinho e Trajadura, meio a meio. Ótimo para abrir uma boa vinhaça noite a
fora, quem sabe? Segue o, também branco, Muralhas de Monção DOC, das mesmas
uvas. Superior ao antecedente, um vinho que surpreende. 85% Alvarinho e 15%
Trajadura, é fresco de acidez convincente, traz marcantes notas cítricas e de
frutas secas. Nessa altura você já decidiu que a noite será de “vinhaça forte”,
como diria de Eça, veemente arauto dos verdes portugueses.
O terceiro vinho, Rosé Muralhas,
é mais simples. Combina Alvarelhão, Pedral e Vinhão, à terça. É ligeiro na boca
e um tanto vago ao nariz, mas encanta os olhos pela cor de salmão (das águas européias,
não do litoral chileno), como se fora um palhete esbatido. De toda forma, lava
a boca para chegada do mais esperado da noite: o tinto Adega de Monção. Com
predomínio das uvas Brancelho, Pedral e Negrão, já recebeu o prêmio Mega
Degustação Gula 2007. Tem ótimo equilíbrio entre a digital alcoólica e a acidez
natural das uvas. É um vinho sério; bem imponente; encorpado, porém macio. Caiu
lindamente – também como diria o Eça – com o bacalhau.
Pois é. O vinho verde, uma das
glórias de Portugal, sempre traz satisfação e bem estar. Quem o diz, com a
propriedade do conhecedor e aliado fiel, é ninguém menos que o magnífico
escritor da Povoa do Varzim. Raro é o livro dele sem referência aos verdinhos
lusitanos. Então, se a grana anda curta para atravessar o Atlântico, eis uma boa
variante: ponha à mesa lascas grossas de bacalhau a nadar no azeite, leia (ou
releia) A Ilustre Casa de Ramires e, para cada página que virar, beba um gole
de vinho verde. Pronto! Você já está em Portugal.
É onde eu te falo...
Antonino Barbosa - Presidente da Adega de Monção |
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