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sexta-feira, 15 de julho de 2011

Vinho Verde, uma das glórias de Portugal

            Alguns dos vinhos verdes degustados


- Seja uma reta! - dizia o professor de Matemática, que traçava no quadro negro uma reta entre os pontos hipotéticos a e b. Aí o verbo “seja” não era dito na voz imperativa (ordem), mas no subjuntivo (proposição). A frase, pois, não era ordem ou conselho para que o aluno se transformasse numa reta, mas para que ele considerasse uma reta imaginária, relativamente à qual era proposto um problema – p. ex., traçar sobre ela uma linha perpendicular. Hoje os professores adotam métodos diferentes e um palavreado mais terra-terra, menos  acadêmico; até porque a moçada atual (que escreve “naum” em lugar de “não”) ficaria por entender.
            Ciente de que os meus leitores são gente de muita leitura, proponho-lhes: - Seja um bacalhau à Gomes de Sá!   
Essa iguaria celeste está no Restaurante do Porto; e você lá. Como o programa diz que lhe servirão vinhos verdes, você já está com a boca cheia d’água e a alma em festa. De repente ouve a voz carregada de Antonino Barbosa, português de longo curso e rápidos falares, que lhe apresenta as suas estrelas da noite: dois Muralhas de Monção, um Adega de Monção e um Rosé Deu La Deu. Todos em Belo Horizonte representados por Carlos Pereira, da Barrinhas (31)3287.0580.  
O branco Adega de Monção DOC, leve como deve ser um verdinho branco para o verão, tem certa presença gasosa, notada no colar de bolhas que brincam na orla. Combinação muito agradável de Alvarinho e Trajadura, meio a meio. Ótimo para abrir uma boa vinhaça noite a fora, quem sabe? Segue o, também branco, Muralhas de Monção DOC, das mesmas uvas. Superior ao antecedente, um vinho que surpreende. 85% Alvarinho e 15% Trajadura, é fresco de acidez convincente, traz marcantes notas cítricas e de frutas secas. Nessa altura você já decidiu que a noite será de “vinhaça forte”, como diria de Eça, veemente arauto dos verdes portugueses.
O terceiro vinho, Rosé Muralhas, é mais simples. Combina Alvarelhão, Pedral e Vinhão, à terça. É ligeiro na boca e um tanto vago ao nariz, mas encanta os olhos pela cor de salmão (das águas européias, não do litoral chileno), como se fora um palhete esbatido. De toda forma, lava a boca para chegada do mais esperado da noite: o tinto Adega de Monção. Com predomínio das uvas Brancelho, Pedral e Negrão, já recebeu o prêmio Mega Degustação Gula 2007. Tem ótimo equilíbrio entre a digital alcoólica e a acidez natural das uvas. É um vinho sério; bem imponente; encorpado, porém macio. Caiu lindamente – também como diria o Eça – com o bacalhau.
Pois é. O vinho verde, uma das glórias de Portugal, sempre traz satisfação e bem estar. Quem o diz, com a propriedade do conhecedor e aliado fiel, é ninguém menos que o magnífico escritor da Povoa do Varzim. Raro é o livro dele sem referência aos verdinhos lusitanos. Então, se a grana anda curta para atravessar o Atlântico, eis uma boa variante: ponha à mesa lascas grossas de bacalhau a nadar no azeite, leia (ou releia) A Ilustre Casa de Ramires e, para cada página que virar, beba um gole de vinho verde. Pronto! Você já está em Portugal.
É onde eu te falo...        
Antonino Barbosa - Presidente da Adega de Monção

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