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terça-feira, 2 de julho de 2013

O REI E A GOVERNANTA






 Baltasar, o caldeu que reinava na Babilônia, era um rei dividido em partes: 1/3 chulé, 1/3 corrupção e 1/3 gazes intestinais. Um sujeito assim, desagradaria a qualquer divindade. Daí, para punir o tralha, o deus da região escreveu na sala de banquetes do rei caldeu a seguinte mensagem: “ Manes Tecel Phares”.
Foi um pandemônio. Ninguém conseguia traduzir e, mais grave, interpretar o recado divinal. Até que alguém se lembrou de Daniel, que além de ser profeta e falar  com os bichos, era fluente em mil idiomas e sete mil dialetos. O profeta chegou, cumprimentou o rei com um aceno de cabeça e leu a mensagem. Então fitou Baltazar e disse, em caldeu:  “Falam os deuses nos cantos do piaga! Sou bravo, sou forte; sou filho do Norte! Meu canto de morte, guerreiros, ouvi!” (*). Como ninguém entendesse, Daniel foi explícito: 
- Majestade, estais no brejo!
- Hân? Como assim, ô cu-d’água?
- Vou ser claro. O recado diz: Pesado  Medido Dividido. Agora com licença que eu...
- Volte aqui, postema! Que merda é essa? O que você diz não faz sentido!
- Pois devia, Majestade. Tudo foi pesado, foi medido; e o reino... dividido.
- Puta Merda!  Para com os rodeios! isso, ô meu, quer dizer exatamente o quê?
- Não quer dizer; diz, mesmo. Pesar e medir são meios de avaliar. Foram pesadas as vossas falcatruas e conferidos os vossos trambiques, ó rei. E dividir é retalhar, né?
De madrugada Baltazar morreu e dias depois Ciro, o persa, tomou Babilônia, veio o tal , e confuso, império medo-persa, e... bom o tempo passou.
Pois fiquei sabendo de uma coisa danada de esquisita. Dilmão oferece um jantar ao Homem da Fifa. A festa vai bem, quando aparecem na parede umas garatujas mal arrumadas: Mane Deçe Farol. Que diabo é isso? Puxa daqui, busca dali, batem cabeça... Nada. Ninguém entende aquele trem. Horas depois chega-se a um consenso: chamem o Fernando Henrique! Ele fala muitos idiomas e, quem sabe, traduz essa coisa?
                Meia hora depois ele está na sala de banquetes do Alvorada, dando uma enorme gargalhada.
O que foi, o que não foi... Para resumir, eis o diálogo:
- Presidente eu...
- Sou presidenta, entendeu? Pre-si-den-TA!
- Como quiser. Mas acho que tenho a tradução dessa mer... Oh!!! Queira desculpar! Vamos ao ponto. Pelo talhe e disposição do que seriam letras, o escritor é, por um lado, meio analfabeto; por outro, é um  inteiro, analfabeto funcional.
- Hân?
- Bom, Vossa Excelência está no sal...
- Hein? Que no sal? Quê-isso?
- Para mim é um recado direto: Vossa Excelência foi pesada, medida e o seu reino dividido...
- Que? Como você sabe? Que raio de língua é essa?
- É difícil admitir mas, por incrível que pareça, a mensagem está no vernáculo.
- Onde?
- Seria Português, Madame, só que rudimentar. Em suma, diz:  ô mané, desce (abaixa) o farol (facho) – ou seja, abaixa o facho, dona!
- Ora, que conselho mais...
- Não é conselho, Excelência; é ordem.
- Mas, gente, eu não entend...
- Excelência vou ser direto. Seu governo foi pesado, medido e ... vai acabar em seis meses... eu calculo. Quando Vossa Excelência veio com essa de presidentA, eu percebi que era um ato falho. Vossa Excelência sempre se teve a si mesma como “governanta”, não governante: o governante mesmo, era o... o... o outro, entendeu? Vossa Excelência sempre foi a governanta, não a patroa... Boa noite, madame.
- É coisa dele, né?
- Entenda como quiser, Madame. Mas sua reeleição, pelo recado na parede... sei não...

É onde eu te falo...

(*) Este cântico de Daniel foi, muitos séculos mais tarde, usado por Gonçalves Dias.

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