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quarta-feira, 10 de julho de 2013

SEM TÍTULO



            O “Estado de Minas” de hoje, 10 de Julho/13,  traz coisas fantásticas; e ridículas; e tenebrosas:



 I – Henrique Alves, aquele de Brasília, que usa aviões da FAB nas suas  vilegiaturas (e de terceiros), decide aliviar a sua consciência altamente democrática. Depois de dar uns trocados ao Tesouro a título de aluguel da aeronave que usou mais recentemente, avisa que desistiu de comprar o batmóvel com que sonhava desde criança pequena.  Aliás, batmóveis, porque eram dois: um pra ele e outro pro Robin, pois, solitário, não há Batman que sobreviva. Enfim, mandou recolher o edital - dando a entender que prefere as vias aéreas. Não, não se trata dos canais por onde circulam o ar inalado e o exalado, mas de transporte: supõe-se que Sua Excelência   pensa no  batcóptero.

II – Em plena  démarche eleitoral, o Planalto convocou quatro mil prefeitos para tratar do costumeiro toma-lá-dá-cá  que antecede o ano das eleições. Os prefeitos foram a Brasília. Mas Dilma não compareceu ao encontro, alertada pelo seu serviço secreto:  aguardavam-na  estrondosas vaias municipais do Oiapoque ao Chuí.  Ela se livrou do vexame “in loco”, mas foi satisfatoriamente vaiada “in absentia”  (*)     ou seja,  vaiar a Presidente (tenho pavor de presidenta) virou moda.  Alguma coisa está errada (só errada?) e tem muita gente com o... o... o pescoço... na mão.

III – Notório baba-ovo de Fidel Castro (a sombração caquética de gosmenta caquexia)  já começa a admitir que o Governo da República   do qual é delirante sectário    não tem nada a ver com aquela “brastemp”  que ele próprio  vinha esgoelando aos quatro ventos. E reconhece, agora, que Dilma (e o seu partido, por extensão) só se lembrou de uma reforma política porque ficou amedrontada  com a grita das ruas. Não fossem as manifestações de junho, nem Dilma se empenharia nessa reforma; nem o tal prosélito estaria fazendo o “confiteor” do impenitente bundão.

IV  – Aqui, uma bala de borracha ou um spray de pimenta deixam certos grupos em estado de grave excitação anal  e/ou  uterina.  Para eles, no Brasil, a Polícia só pode usar água de rosas (com as respectivas pétalas), talco de alfazema e algodão doce. Já noutras terras, cuja ideologia dominante  é a mesma desses grupelhos, os instrumentos de coerção podem ser um pouquinho mais..., digamos, convincentes. Por isso não se ouviram a críticas e os rosnados de sempre quando a Polícia Chinesa, anteontem, abriu fogo -  fogo de verdade, de fuzil e metralhadora -  contra mocorongos tibetanos desarmados. O que fizeram esses passa-fome do Tibete? Tentaram ultrapassar o bloqueio da FIFA, digo, da policia, e subir a colina onde acontecia a festa comemorativa do aniversário do Dalai Lama.      

É onde eu te falo...

(*)  Expressões latinas:  “no local” e “em ausência, respectivamente.    

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O LUNDU



 












Poucos já viram dançar o lundu; muitos sequer ouviram falar desse bailado primitivo e empoeirado    já que foi trazido da África e, portanto, era dançado pelos escravos nos eirados de terra nua.  A coreografia original, é claro, foi modificada através dos tempos, até porque só mesmo os negros daquela época, curtidos no eito e dotados da elasticidade que dá a constante atividade física, eram capazes de executá-la   inclusive como derivativo, como meio de anestesiar a mente e abrandar as misérias de prisioneiro escravizado. Jamais conheceremos o verdadeiro lundu. Eu já assisti a um que era razoavelmente "africano" mas, suponho, já derrancado, cheio das invencionices de novidadeiros tolos.
Nascido entre as paliçadas das aldeias, dançado sob os olhares severos de sobas e feiticeiros, o lundu chegou ao Brasil pelo traficante maldito que nas savanas africanas apresava mão de obra para a Colônia. Era, pois, dança de gente dotada de grande agilidade, com o traquejo atávico na arte/ciência de sobreviver por séculos sobre séculos em ambiente rude e hostil, onde cada palmo de chão era disputado com bichos ferozes,  entre toda sorte de perigos. Daí as características das danças com certidão de registro lavrada na África, cheias de improvisos, de surpresas, volteios e negaças. Assim, o  lundu nunca foi, nem seria, dança de sinhozinho e sinhazinha, reinóis molengas e empenados.
Nada obstante, e certamente pelo fascínio que despertou, o lundu foi assimilado (mal) por brancos, como se pode ver nos desenhos de Rugendas e Debret. E desse desastre resultou a desfiguração do fogoso bailado. O Lundu de hoje, onde ele raramente acontece, é apenas uma deformação tosca, no qual  se sucedem pulos desconjuntados e rodopios sem graça. 


Pensar nisso lembra-me o Zé do Sarney, aquele do bigode. Faz anos, quando ele governava, e eu escrevia para o extinto “Diário da Tarde”, veio a lume a portentosa obra poética do maranhense. Ah, maior que Bilac, superior a Neruda, faria corar de vergonha Ruben Dario, mesmo Calderòn, até Camões. Que verve! Que facúndia!  Os “Marimbondos de Fogo” de Sarney incendiaram o Planeta. E as mentes da Academia, que, reduzidas a cinza estéril, acolheram-no sem ao menos se perguntar a razão disso. E até hoje ele veste o fardão de bordaduras militares e sinhaninhas rococó; sem contar o chapéu tipo canoa, estilo Caxias, ornado de plumas brancas   que ficava muito bem no ilustre Luiz Alves de Lima e Silva mas,  a todos os títulos, desgracioso no poeta.
Então escrevi no dito jornal que os marimbondos de Sarney eram perigosíssimos: caíam   em voo picado no rabo dos literatos, e só lá, resultando que esses letrados,  no desatino doloroso que lhes causava o fogo dos ditos vespídeos, desgovernavam e se punham a cabriolar como mamulengos    como num lundu mal dançado. Fui severamente admoestado, mas nunca houve (tirante os da Academia) quem fizesse um só elogio, mesmo uma referência aguada, aos poemas em apreço...

É onde eu te falo...

terça-feira, 2 de julho de 2013

O REI E A GOVERNANTA






 Baltasar, o caldeu que reinava na Babilônia, era um rei dividido em partes: 1/3 chulé, 1/3 corrupção e 1/3 gazes intestinais. Um sujeito assim, desagradaria a qualquer divindade. Daí, para punir o tralha, o deus da região escreveu na sala de banquetes do rei caldeu a seguinte mensagem: “ Manes Tecel Phares”.
Foi um pandemônio. Ninguém conseguia traduzir e, mais grave, interpretar o recado divinal. Até que alguém se lembrou de Daniel, que além de ser profeta e falar  com os bichos, era fluente em mil idiomas e sete mil dialetos. O profeta chegou, cumprimentou o rei com um aceno de cabeça e leu a mensagem. Então fitou Baltazar e disse, em caldeu:  “Falam os deuses nos cantos do piaga! Sou bravo, sou forte; sou filho do Norte! Meu canto de morte, guerreiros, ouvi!” (*). Como ninguém entendesse, Daniel foi explícito: 
- Majestade, estais no brejo!
- Hân? Como assim, ô cu-d’água?
- Vou ser claro. O recado diz: Pesado  Medido Dividido. Agora com licença que eu...
- Volte aqui, postema! Que merda é essa? O que você diz não faz sentido!
- Pois devia, Majestade. Tudo foi pesado, foi medido; e o reino... dividido.
- Puta Merda!  Para com os rodeios! isso, ô meu, quer dizer exatamente o quê?
- Não quer dizer; diz, mesmo. Pesar e medir são meios de avaliar. Foram pesadas as vossas falcatruas e conferidos os vossos trambiques, ó rei. E dividir é retalhar, né?
De madrugada Baltazar morreu e dias depois Ciro, o persa, tomou Babilônia, veio o tal , e confuso, império medo-persa, e... bom o tempo passou.
Pois fiquei sabendo de uma coisa danada de esquisita. Dilmão oferece um jantar ao Homem da Fifa. A festa vai bem, quando aparecem na parede umas garatujas mal arrumadas: Mane Deçe Farol. Que diabo é isso? Puxa daqui, busca dali, batem cabeça... Nada. Ninguém entende aquele trem. Horas depois chega-se a um consenso: chamem o Fernando Henrique! Ele fala muitos idiomas e, quem sabe, traduz essa coisa?
                Meia hora depois ele está na sala de banquetes do Alvorada, dando uma enorme gargalhada.
O que foi, o que não foi... Para resumir, eis o diálogo:
- Presidente eu...
- Sou presidenta, entendeu? Pre-si-den-TA!
- Como quiser. Mas acho que tenho a tradução dessa mer... Oh!!! Queira desculpar! Vamos ao ponto. Pelo talhe e disposição do que seriam letras, o escritor é, por um lado, meio analfabeto; por outro, é um  inteiro, analfabeto funcional.
- Hân?
- Bom, Vossa Excelência está no sal...
- Hein? Que no sal? Quê-isso?
- Para mim é um recado direto: Vossa Excelência foi pesada, medida e o seu reino dividido...
- Que? Como você sabe? Que raio de língua é essa?
- É difícil admitir mas, por incrível que pareça, a mensagem está no vernáculo.
- Onde?
- Seria Português, Madame, só que rudimentar. Em suma, diz:  ô mané, desce (abaixa) o farol (facho) – ou seja, abaixa o facho, dona!
- Ora, que conselho mais...
- Não é conselho, Excelência; é ordem.
- Mas, gente, eu não entend...
- Excelência vou ser direto. Seu governo foi pesado, medido e ... vai acabar em seis meses... eu calculo. Quando Vossa Excelência veio com essa de presidentA, eu percebi que era um ato falho. Vossa Excelência sempre se teve a si mesma como “governanta”, não governante: o governante mesmo, era o... o... o outro, entendeu? Vossa Excelência sempre foi a governanta, não a patroa... Boa noite, madame.
- É coisa dele, né?
- Entenda como quiser, Madame. Mas sua reeleição, pelo recado na parede... sei não...

É onde eu te falo...

(*) Este cântico de Daniel foi, muitos séculos mais tarde, usado por Gonçalves Dias.