Hoje tomei café com um amigo, Rajwahpapu
- entomologista por formação e faquir por gosto. Conheci-o na Manchúria, faz
anos, quando lá fui estudar a arte de fazer iogurte com leite de camela. Meu
amigo nasceu em Udhampur, na Caxemirra, mas como tem nojo das cizânias
políticas entre índia, Paquistão e China, que disputam a propriedade da sua
terra, fincou pouso numa fraga perdida do Passo Khyber, de onde viaja pelo
mundo; segundo ele, para avaliar a inquietante exacerbação das enfermidades mentais que
contaminam os governos do Planeta.
Pois Rajwapah, que fala 333
línguas e dialetos, está hoje, só hoje, em Belo Horizonte; ele a sua confortável cama de
pregos. Viaja amanhã, pela KLM, para Glasgow, rumo ao Eire, onde vai assuntar os sinais de
fermentação do IRA, depois do que segue para o
País Basco, a convite da Universidade de
Bilbao, onde dará palestra sobre os ares empesteados que vêm dominando alguns
países sul-americanos. Grande sujeito, o faquir.
É dele o Catálo de Governantes em Geral, cujos originais estão na biblioteca particular do Dalai Lama. Segundo Rajwahpapu é incalculável o número dos
“bound-ahm-moll’e” – expressão dele, mistura de hindustani, pashto, swahili e
persa antigo, traduzível por governante
sonolento, governo aguado, administrador desidioso ; ou como se diz no Deserto do Nefud, em termos um pouqinho mais rudes, "bound-ah-d'áhguah", governante que sofreu lobotomia. Esse
naipe de governante, diz o faquir, domina na rara proporção de 98,79%
do mundo. Papagaio! – pensei. Inda bem que o Brasil figura entre os
1,21% que gozam da eficácia governamental...
Fui desenganado. O próprio
faquir me apontou o que seria singela marca desse modo de governar, aqui mesmo,
em Belo Horizonte. - Ô quê? Tem certeza, Rajwahpapu? - Ele tinha. E me provou.
Foi assim:
- Sabe aquele túnel de retorno que
vocês têm aqui, aquele que passa debaixo da rodovia BR-040, ali pela altura do
Shopping Ponteio?
- Pois sei.
- Então. Por conta dos poucos
méritos dos engenheiros que o fizeram, a obra foi tocada sem observância dos mais elementares preceitos da Geologia e sem a devida avaliação
topográfica. Sabia disso?
- Não.
- No entanto foi assim. Vieram as
chuvas de verão - fenômeno elementarmente previsível, mas não levado em conta -
aquela coisa (quero dizer, o túnel) foi entupida por desaterramentos, pedras,
galhas, bichos e mais coisas que vieram no roldão da enxurrada, né?
- É.
- Pois fiquei sabendo pelo
Daily Mirror (eu estava em Londres), que isso aconteceu em Dezembro de 2.011... Ou seja, daqui a dias fará um ano! Um ano!!!
- É...
Foi quando Rajwahpapu mostrou que conhece perfeitamente o quadro da política mundial. Ele me contou, com relação ao nosso túnel,
que os Governos Municipal, Estadual e Federal se limitam a empurrar com a barriga: espicham o bico, espiam, fazem cara de sonsos, e se põem de desentendidos - um jogando a batata
quente para o outro, tipo “isso não é comigo”...
- Sério, faquir?
- Claro que é. E nesse não é
comigo, não é comigo, o tempo passa e o povo não pode usar o túnel. Para
o retorno, é preciso rodar estrada acima até o viaduto do BH Shopping...
- Coisa, hein, faquir?
- Para usar expressão mineira, procê vê..
(O danado do faquir fala mineirês).
É onde eu te falo...
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