Páginas

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A ELIMINAÇÃO DA BESTA



Folheando velha revista encontro a Seleção Romena de Futebol que disputou a Copa da Fifa em 1994 e encantou o mundo com seu estilo - leve, rápido e elegante - de jogar bola. Assisti a alguns jogos dessa equipe no salão do Hotel Tanharu, à época o único da então serena (não sei se ainda hoje) Praia de Castelhanos, no litoral capixaba. Os brasileiros, estávamos eufóricos naqueles dias de moeda forte e futebol gostoso de se ver. Bons tempos. Da Seleção Romena, três jogadores me ficaram na memória, pelos seus nomes, típicos a mais não poder: Dumitrescu, Popescu e Petrescu. Mais romeno que isso só Bucareste.
Então surge a inevitável lembrança de outro "êscu"; não simpático quanto os citados, mas nojento e safado: Ceausescu. Que traste, aquele; melhor dizendo, aquilo. O canalha "governou" a Romênia de 1965 a 1989, nomeado pelo ogro pestanudo Leonid Brezhnev - segundo os mui democráticos preceitos bolchevistas. Ceausescu foi escolhido justamente pelas suas belas virtudes: era sem-vergonha, ladrão, sanguinário, brutal, assassino e peçonhento, ou seja, um verme com todas as características fundamentais dos ditadores.
O biltre (bela expressão) desonrou a bela Romênia por 24 anos. Até que os romenos decidiram se dar um belo presente de Natal: mataram-no em 25 de Dezembro de 1989. Executaram-no como a um cachorro hidrófobo: sem problemas de consciência. A parte boa da Humanidade aplaudiu. Na Internet se encontram vídeos dos últimos momentos do tralha e da grande festa que os romenos fizeram em louvor do formoso evento.
 Todo ditador deveria ter esse fim. O Planeta agradeceria e o Chefe das Fornalhas Infernais (se o Inferno existisse) entraria em orgasmo cívico. Pena é que alguns morreram de morte natural; maior dó é que alguns ainda não foram enterrados porque estão vivos – só teoricamente: na verdade, são vegetais em claro estado de putrefação, abantesmas que mascam a gosma fedorenta que excretam, mas não cospem – no que fazem um bem enorme à higiene do Planeta.
Pois é assim. Ditador é aberração. Ditador, mesmo quando chamado de premier ou presidente (!!!), é nada além da besta monstruosa que, só por viver (mesmo teoricamente), comete crime continuado de lesa-humanidade. 
           Sei de “democratas” que babujam a genitália desses ditadores e lhes seguem a cartilha !  Embora certos brasileiros sonhem com esse posto  infame, o Brasil, felizmente, não os tem - os ditadores; mas está "assim, ó"  de... ba-bu-ja-do-res.
           
É onde eu te falo...
     

sábado, 24 de novembro de 2012

TODOS PARA O BREJO (NÃO SÓ A VACA)



  Pois Benedictus XVI, que também é Bento e igualmente dezesseis, de notório conservador, virou novidadeiro: decidiu apagar das cabeças católicas uma tradição que sempre lhes foi tão cara: despejou do Presépio hóspedes que, faz séculos, nele vinham passando as Festas de Natal. Dixit Pontifex, disse o Pontífice: -Presépio não tem bicho!        
Sua Santidade, com assistência do Espírito Santo, tem o dom de, pela Igreja, falar ex cathedra sobre “doutrina de fé ou costumes” (sic) -  outorga do Apóstolo Pedro, consolidada em mandamento constitucional promulgado pelo Concílio Vaticano I, em 1780. Aliás, falar “ex cathedra” pode se traduzir por “falar doutoralmente”; ou seja, em linguagem menos culta: o Papa falou, tá falado. De resto, é esse mesmo o espírito da coisa, tanto que as sentenças papais se erigem em dogmas, ou preceitos indiscutíveis. Justamente por isso é que a Igreja diz, e os católicos repetem: o Papa é infalível!
Pobres católicos! E agora? Como eles vão purgar a irregularidade dos seus presépios domésticos, onde acostumaram juntar espécimes bovinos, ovinos, caprinos e eqüinos (com trema), até mesmo, num rasgo democracia zoológica, o galo que canta à meia-noite, a conclamar – muito a propósito – para a... missa do galo?
É... Sua Santidade arrumou um grande sarilho!
Quem vai, tirante um ou outro papista irredutível, armar o seu presépio sem os bichos litúrgicos, logo eles, portadores seculares de inefável encanto? E como explicar às crianças, os crentes mais gentis e verdadeiros, que neste ano o seu presépio só abrigará a Sagrada Família e (mesmo assim só depois de 6 de Janeiro) os Reis Magos? Não. Positivamente, é um desconchavo. Sem os bichos não há presépio que agüente (também com trema). Ora, já se viu desterrar do cenário natalino os figurantes mais pacíficos e amoráveis? Depois, há pontos a ponderar. Vejamos:
 1 - Se na taipa de Belém não há os bichos regimentais, também não há de ter a manjedoura, quando é fundamental: a) que ela tem a função original de acondicionar a forragem dos próprios e, assim, não havendo bichos não faz sentido ter alfafa; b) que justamente na manjedoura, sobre a alfafa macia, foi posto a dormir o Menino Jesus. A notória manjedoura, portanto, seja no seu propósito originário, seja na sua finalidade derivada, é um estorvo no Presépio Papal.
2 - Demais, se não há os bichos, o Menino Jesus vai se congelar na friagem invernal de Dezembro (naqueles Orientes faz frio no Natal). Então, quem vai bufar sobre o nenê para aquecê-lo? No entanto, conforme a jurisprudência popular, o Menino Jesus definhava, encarangado, quando os bichos se puseram a bufar sobre ele o seu hálito quente, o que o salvou da hipotermia fatal. Só que agora ele não vai ter esse conforto.
3 -  Proscritos os bichos, também não há de haver pastores no Presépio; estes, por serem desnecessários, até impertinentes, nada têm a fazer no local. Vai sobrar espaço na taipa.
É... Sua Santidade despovoou o Presépio!
Tudo isso sem contar que desautorizou um santo de grande prestígio e, consta, de vastos saberes, profanos e teologais. Também é de preceito que São Francisco de Assis, o poverello, foi quem, no Século XIII, armou (em argila) o primeiro presépio da História, em Greccio, no Lácio, e  nele o milagroso frade juntou bois e vacas, carneiros e cabritos, cabras, muares e cavalos. Aliás, fundado no magistério do Coronel-FAB Antônio Frederico Bastos, festejado sabedor das coisas antigas, tenho acatáveis razões para crer que São Francisco colocou no seu presépio também um camelo - de resto, personagem obrigatório nas cenas médio-orientais.                
É... Sua Santidade se encrencou com o Santo de Assis !
Pessoalmente, acho que a novidade papal vai para o atoleiro onde moram as tais leis brasileiras que “não pegaram”. Essa coisa de por os bichos no ostracismo não vai pegar. Como não pegou, ainda, a proibição dos acochos de alcova sem casamento e fora dele; nem, até hoje, a supressão da camisinha.
É... Sua Santidade se colou em cheque...
Inovar é bom, mas... de modus in rebus, diziam os romanos (adoro essa frase). Tradução, para os pouco afeitos ao Latim: mexer em time que está ganhando costuma dar revertério. 

É onde eu te falo...

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

RAJWAHPAPUH, FAQUIR DE FORMOSAS FALAS...





Hoje tomei café com um amigo, Rajwahpapu - entomologista por formação e faquir por gosto. Conheci-o na Manchúria, faz anos, quando lá fui estudar a arte de fazer iogurte com leite de camela. Meu amigo nasceu em Udhampur, na Caxemirra, mas como tem nojo das cizânias políticas entre índia, Paquistão e China, que disputam a propriedade da sua terra, fincou pouso numa fraga perdida do Passo Khyber, de onde viaja pelo mundo; segundo ele, para avaliar a inquietante exacerbação das enfermidades mentais que contaminam os governos do Planeta.
Pois Rajwapah, que fala 333 línguas e dialetos, está hoje, só hoje, em Belo Horizonte; ele a sua confortável cama de pregos. Viaja amanhã, pela KLM,  para Glasgow, rumo ao Eire, onde vai assuntar os sinais de fermentação do IRA, depois do que segue para o País Basco, a  convite da Universidade de Bilbao, onde dará palestra sobre os ares empesteados que vêm dominando alguns países sul-americanos. Grande sujeito, o faquir.
É dele o Catálo de Governantes em Geral, cujos originais estão na biblioteca particular do Dalai Lama. Segundo Rajwahpapu é incalculável o número dos “bound-ahm-moll’e” – expressão dele, mistura de hindustani, pashto, swahili e persa antigo, traduzível por governante sonolento, governo aguado, administrador desidioso ; ou como se diz no Deserto do Nefud, em termos um pouqinho mais  rudes, "bound-ah-d'áhguah", governante que sofreu lobotomia. Esse naipe de governante, diz o faquir, domina na rara proporção de  98,79%  do mundo. Papagaio! – pensei. Inda bem que o Brasil figura entre os 1,21% que gozam da eficácia governamental...
Fui desenganado. O próprio faquir me apontou o que seria singela marca desse modo de governar, aqui mesmo, em Belo Horizonte. - Ô quê? Tem certeza, Rajwahpapu?  - Ele tinha. E me provou. Foi assim:
- Sabe aquele túnel de retorno que vocês têm aqui, aquele que passa debaixo da rodovia BR-040, ali pela altura do Shopping Ponteio?
- Pois sei.
- Então. Por conta dos poucos méritos dos engenheiros que o fizeram, a obra foi tocada sem observância dos mais elementares preceitos da Geologia e sem a devida avaliação topográfica.  Sabia disso?
- Não.
- No entanto foi assim. Vieram as chuvas de verão - fenômeno elementarmente previsível, mas não levado em conta - aquela coisa (quero dizer, o túnel) foi entupida por desaterramentos, pedras, galhas, bichos e mais coisas que vieram no roldão da enxurrada, né?
- É.
- Pois fiquei sabendo pelo Daily Mirror (eu estava em Londres), que isso aconteceu em Dezembro de 2.011... Ou seja, daqui a dias fará um ano! Um ano!!!
- É...
Foi quando Rajwahpapu mostrou que conhece perfeitamente o quadro da política mundial. Ele me contou, com relação ao nosso túnel, que os Governos Municipal, Estadual e Federal se limitam a empurrar com a barriga: espicham o bico, espiam, fazem cara de sonsos, e se põem de desentendidos - um jogando a batata quente para o outro, tipo “isso não é comigo”...
- Sério, faquir?
- Claro que é. E nesse não é comigo, não é comigo, o tempo passa e o povo não pode usar o túnel. Para o retorno, é preciso rodar estrada acima até o viaduto do BH Shopping...
- Coisa, hein, faquir?
- Para usar expressão mineira, procê vê..  (O danado do faquir fala mineirês).

É onde eu te falo...

terça-feira, 6 de novembro de 2012

A PRAGA VERMELHA




            Em culinária há coisas que, mesmo insossas ou passáveis, viram praga. E praga só serve para atazanar, se não for exorcizada. Dou alguns exemplos: o coulis  de vagas frutas vermelhas na sobremesa; o feioso e improvável molho de jabuticaba sobre a ave assada; as barquinhas de folha de endívia recheadas de excessos de alho porro (dito poró), e por aí vai. Essas e outras coisas dispensáveis são hóspedes indefectíveis de 90% dos bares e restaurantes belo-horizontinos (desprezo a tal reforma ortográfica).
            Agora, cá entre nós, praga mesmo é a... txan-txan-txan-txan! ... pimenta biquinho! Ô raio de  frutinha chata, com um rabinho pretencioso, que parece berbigão – este molusco, aliás, delicioso. Mas a tal de biquinho, decididamente, é a própria sensaboria. É tão insípida e tão pouco acrescenta à comida, que chega a enternecer, coitada. Faz vista, sim, vermelhinha e brilhante, passeando entre folhas verdes ou, cheia de presunção, vagando sobre a travessa de feijão-tropeiro, no que é perfeitamente dispensável, se não for importuna. Depois, a danada tem mais sementes que qualquer melancia (das grandes). Aquilo, quando você morde, é uma explosão, arenosa e sem pudor, de sementes: mastigá-las dá um “irk” arrepiante; degluti-las é um sofrimento.
            No entanto, se apresenta nas mesas mineiras como a “cigarra de maior talento” - lembram-se de Olegário Mariano, poeta, constituinte de 1946 e diplomata? Pois é dele a expressão, que calha bem: a biquinho é tão enfadonha quanto os cantares da cigarra... Há um programa em Belo Horizonte cuja proposta era enaltecer as guloseimas de buteco” - programa que desgarrou da idéia original: as gostosuras ligeiras do tira-gosto viraram pantagruélicos almoços, jantares e ceias, para glutões. Haja sal-de-fruta! Essa comezaina, servida em forma de montanha, enche uma gamela - das bitelas. 
Esse evento é o Reino da Glória da tal pimenta. Nele, qualquer carne, cereal, caldo, legume ou folhagem, chega à mesa coroado com um enxame dela, como se fosse um vasto formigueiro - de formigas vermelhas e bundudas; já as vi se metendo à besta (é "munta" audácia) até em sobremesas...
Mas é a compulsão, vulgar e obstinada, do lugar comum que o brasileiro adora. Qualquer coisa nova se torna indiscriminadamente apropriável e usada até enojar. A biquinho surgiu, tadinha, sem vaidade e sem orgulho, sabendo-se pífia e mocoronga; mas era uma novidade para o grande público. Deu no que deu. Virou andaço. Mais que isso, epidemia.

É onde eu te falo...