Hoje vi em torno da fruteira um bando de mosquitinhos
inquietos - as “moscas da fruta”, que endoidam na presença da frutose. Depois,
no jornal, dei com moscas azuis. - É... Hoje é dia das dípteras!”, bichos de
duas asas. Quem não conhece a mosca azul? Não há. E bem poucos não leram “A
Mosca Azul”, aquela que “zumbia e voava e voava e zumbia com suas asas de ouro
e granada”.
Embora assim tão linda no cantar de Machado de Assis, quero
crer que esse inseto reluzente é uma varejeira;
que, virou emblema da vaidade. - Fulano foi picado pela mosca azul! – sempre se
ouve. Na verdade, acho que esse tipo de mosca não pica; mas tem o dom de inchar
o tal de “ego com fome” - esse trem
do qual psiquiatras e psicólogos falam tanto, mas não conseguem traduzir para
os leigos em termos inteligíveis.
Ego e mosca azul. Dupla terrível,
essa. Ao que percebo, voam em parelha. Onde está um, está a outra. Essa
duplinha assola jornais e revistas, que são o seu habitat (aqui se diz áb-tat, não abitá, como falam por aí). Pois é.
O sujeito tem um espaço no jornal, zás! - faz um colar de moscas azuis e o
coloca ao pescoço. Sem formação científica na matéria, desconfio - apenas
desconfio - que esse colar gera patologias de vastas implicações.
O cidadão fala sobre casaco de
frio: "quando passei o inverno em Nova Iorque..." Discorre sobre vinho:
"percorrendo os vinhedos de Bordeaux, encontrei..." Se quer enriquecer o texto
com alguma arte notável: "quase desmaiei
ao entrar na Capela Sistina; meu coração
disparou ante a portentosa visão do Pátio dos Leões, na Alhambra..." Para falar
de macarrão: "foi na Toscana que comi a melhor massa..."
E assim, casacos, vinhos, arte
antiga, macarrões, velhas ruínas, o que for, tudo é somente “escada” para o
púlpito dourado em que o comentador acha que está, e de onde dá o seu recadinho
maroto e subreptício: "- Tá vendo, ô cara pálida? Eu sou muito viajado,
viu?" Trem de doido, sô!
É onde eu te falo...
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